Rokka: Volume 01, Prólogo

Postado por - 0 comentários
De acordo com a lenda, no momento em que o demônio acordar das profundezas da escuridão, e o mundo se transformar em um inferno, a deusa do destino escolheria seis heróis e os abençoaria com o poder de salvar a tudo e a todos.
O conto a seguir fala da história desses heróis destinados com a missão de salvar o mundo.
Entretanto, ao contar a história deles, há um ponto a ser lembrado: Apenas seis pessoas podem ser escolhidas para salvar o mundo, não cinco, nem sete. Apenas seis.


                                  #


Um rapaz corria pela floresta envolvida por um denso nevoeiro. Ele era um jovem espadachim com cabelos longos e vermelhos que deslizavam atrás dele quando ele se movia. Sobre sua roupa, ele vestia uma armadura de couro leve e um protetor de cabeça feito de ferro. A espada em sua mão direta era, de certa forma, pequena, porém robusta.


Mas talvez a característica mais exótica de suas vestimentas eram os quatro cintos grossos de couro amarrados em volta de sua cintura e todos os incontáveis pequenos bolsos presos neles.


"Haa... haa... haa..."


O rapaz estava ferido, suas roupas estavam todas rasgadas, expondo cortes profundos em sua pele. Sua armadura de couro estava estorricada, e suas mãos tinham marcas de queimaduras, sangue escorria pelo seu corpo e manchava suas pegadas de um vermelho rubro. Elas eram feridas que teriam derrubado um homem comum.


O nome do rapaz era Adlet Maia, e ele tinha 18 anos.


Adlet olhou para trás por cima de seu ombro enquanto corria. O nevoeiro e as folhas grandes impediam que a luz se propagasse e fazia o centro da floresta ficar escuro. Ao olhar na direção do nevoeiro denso e sombrio, ele podia ver a fraca silhueta de um humano.


Estava a seguir Adlet. Na verdade, se aproximava a cada vez mais dele.


Nada bom. No momento que ele pensou isso, uma voz ecoou através da floresta.


"Ali!!" O grito veio de uma mulher, a voz dela, suave e macia. Porém, alta.


"Merda!"


No mesmo momento que ele a escutou falar, uma lâmina de cor branca, feita de aço, tendo em torno de três metros de altura surgiu de baixo de seus pés. Elas apareciam do nada a partir do chão. Com as pontas mirando diretamente para seu coração.


Adlet segurava a espada com a guarda invertida, e assim, com o quartzo que enfeitava o cabo de sua espada, bloqueava por pouco a ponta da lâmina que o atacava, fazendo-o ser arremessado para trás com o recuo do golpe. E a espada que o atacava se quebrar em vários pedaços.


Caindo para trás, ele cravava sua espada no chão, então, usava a força de seus braços para erguer seu corpo e pular. No segundo seguinte, três lâminas surgiam do chão para atacá-lo. As pontas das armas apenas encostando em seu corpo.


"Consegui te acertar?" A perseguidora perguntava.


"Como você é otimista. Você tem que ser mais furtiva do que isso se quer acabar comigo." Adlet respondia enquanto aterrissava no chão e, sem parar, continuava sua fuga. A imagem da perseguidora se dissipava no nevoeiro de tal maneira que ele não conseguia mais enxergá-la.


"Tente com mais vontade! Você realmente acha que pode pegar o homem mais forte do mundo dessa maneira?"


"Você é tão teimoso!", a garota gritava ao mesmo tempo em que continuava a perseguição.


Enquanto corria, Adlet pressionava seu braço direito. A verdade era que ele não tinha conseguido repelir todos os ataques de antes. E agora, seu braço estava aberto com sangue escorrendo incessantemente. Ou seja, sua atitude controlada e calma era apenas ele blefando com toda a sua lábia para não deixar a garota perceber seus ferimentos.


Adlet olhou para as costas de sua mão direita ao mesmo tempo em que corria. Um estranho brasão se encontrava gravado na sua pele. Era do tamanho da palma de um bebê no centro de um elaborado e decorado círculo, havia uma flor com seis pétalas. A marca era de um vermelho escuro e brilhava fracamente.


Olhando para o brasão, Adlet murmurava "Como posso ser morto? Como pode um dos heróis das seis flores ser morto em um lugar como esse?"


O símbolo que Adlet tinha em sua mão direita era conhecido por todos como o brasão das seis flores. Era uma prova de que ele era um dos heróis escolhidos para carregar o destino de salvar o mundo.
                                #                                                                                                            


De acordo com a lenda, um terrível demônio mágico dormia no final do continente, na parte oeste. Histórias diziam que seu corpo era repulsivo, e sua força estava além da imaginação. Matar humanos era o único propósito de sua existência. Se acordasse de seu sono, mesmo que fosse uma só vez, iria comandar dezenas de milhares de seus soldados, chamados de Kyoma [1], para causar destruição no continente e, então, transformar o mundo no inferno.


Este demônio não possuía nome, era apenas conhecido como o "Majin"


De acordo com a lenda, quando o Majin acordar de seu longo sono, a deusa do destino irá escolher seis heróis. E nos corpos dos escolhidos, um brasão na forma de uma flor apareceria.


Apenas esses seis seriam capazes de vencer o Majin, ninguém mais.


Adlet Maia era um dos heróis escolhidos. E ele iria entrar em uma jornada para derrotar o demônio cruel. Deveria encontrar seus companheiros, que também haviam sido escolhidos pelo destino, e todos eles iriam se aventurar até onde o Majin descansava.


Mas...


"Você ainda não desistiu?" Gritava sua perseguidora, logo atrás dele.


Adlet corria desesperadamente dela e das espadas surgindo do nada que o atacavam do chão. Mas, devido a todo sangue que ele havia perdido, sua visão começava a ficar borrada. Seus passos perdiam a firmeza, suas pernas se enroscavam uma na outra. Entretanto, aquilo não significava que ele havia parado de correr. Se ela o alcançasse, ele estaria morto.


Porque isso está acontecendo? Adlet pensou.


Se fosse para tudo ser como planejado, era para ele já estar invadindo as áreas onde o Majin dormia. Já que era a obrigação deles, ele e os outros companheiros escolhidos pelo destino deveriam estar lutando contra os Kyoma juntos. Mas agora Adlet estava sendo perseguido por uma garota, e ela estava prestes a matá-lo.


"Peguei!" A garota gritou, então, começou a disparar seus ataques em Adlet rapidamente, as lâminas roçavam em seu cabelo e cortavam sua armadura de couro.


Uma espada se aproximando diretamente pela sua frente, fez com que ele se agachasse para esquivar. E então, no exato momento em que ele levantou e continuou sua corrida, outra espada surgiu atacando diretamente por baixo dele. Fazendo-o rolar para o lado para evitar a arma.


Apesar de os ataques não terem um alvo especifico, eles eram violentos. E de dez espadas que o atacavam, às vezes, uma ou duas o acertava. E a cada momento que ele evitava um ataque, a distância entre as lâminas e seu corpo diminuía gradativamente.


Sem nenhum aviso, duas espadas avançaram velozmente na direção dele, uma vindo de sua esquerda, e a outra da direita. Das duas, uma conseguira entrar em sua lateral. E com a força do ataque quebrando suas costelas, seu corpo foi empurrado para o lado, fazendo-o tropeçar e cair no chão.


Sua perseguidora já havia se aproximado a uma distância onde ela podia ver claramente o rapaz.


"...Finalmente, peguei você."


A figura de uma garota apareceu a partir das sombras do nevoeiro. Ela era linda. Seu corpo vestido em uma armadura branca, e o cabo do Florete[2] em sua mão era decorado com joias. Em sua cabeça, ela vestia um elmo que tinha orelhas iguais as de um coelho.


Com cabelos claros e lisos, grandes olhos vermelhos e lábios carnudos. Ela era uma garota bonita com feições distintas. E ele podia sentir a nobreza e a graça apenas de observar ela ali parada a sua frente. Tudo sobre ela, da aparência até sua vestimenta, era lindo.  


"Nashetania..." Adlet chama pelo nome da garota.


Ele sabia quem ela era. No peitoral da garota, havia o mesmo brasão que se encontrava na mão direita dele, o símbolo dos heróis das seis flores. Nashetania também era um dos escolhidos para derrotar o Majin.


E agora, Adlet estava prestes a ser assassinado por um de seus companheiros, que ele deveria estar lutando lado-a-lado.


"Nashetania, escute..."


"Escutar o quê?"


"Eu sou seu companheiro."


Nashetania endureceu suas feições, então, mirou o florete em direção a Adlet. A lâmina se estendeu e perfurou através da orelha do rapaz.


"Que baboseiras você está dizendo agora?" Nashetania gargalhava, mas seus olhos pareciam que estavam encarando alguma forma de verme. "Você é um tolo. Porém, se você se render e confessar, eu poderia te dar uma morte rápida."


"Eu não irei confessar. Eu não fiz nada de errado."


"Não adianta. Eu não serei mais enganada por você." Nashetania sussurrou ameaçadoramente.


"Você nos pegou em sua armadilha, nos enganou, nos magoou. Mas agora eu entendo que você é o impostor."


"Eu não estou mentindo. Você está sendo enganada. O inimigo está usando você para me matar", falou Adlet, mas suas palavras não apareciam alcançar Nashetania. "Eu não matei meus companheiros. E eu não armei uma armadilha para todos"


"Tenho certeza que eu disse, não vou mais deixar você me enganar!"


"De forma alguma eu estou te enganando. Escute, Nashetania! Eu não sou o sétimo!"


A lâmina da fina espada se esticou, sua ponta se encontrava na direção exata do coração de Adlet.


"Errado. Você é o sétimo."


                                   #                                                        


Segundo a lenda, quando o Majin acordar de seu longo descanso e causar novamente caos no mundo, a deusa do destino escolheria seis heróis. Um brasão na forma de flor apareceria em alguma parte do corpo deles. E apenas eles, e mais ninguém, poderiam derrotar o Majin e proteger o mundo.


Mas...


Uma sétima pessoa portando o brasão das seis flores havia aparecido.


Cada um desses sete parecia possuir brasões genuínos. Mas Adlet sabia o motivo de ter um a mais. No meio dos sete, um deles era o inimigo, um espião que havia se infiltrado no grupo para enganá-los e matar. Porém, quem diabos no meio dos sete era o inimigo? Para esta questão, Adlet ainda não tinha a resposta.


---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
[1] literalmente "Demônios maus"
[2] uma espada relativamente longa com a lâmina fina.

tags :

0 Comments in "Rokka: Volume 01, Prólogo"

Back to Top