Rokka: Volume 01, Capítulo 01

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Capitulo 1 - Partida e dois encontros


Três meses antes, Adlet Maia estava em Piena, a maior civilização localizada no centro do continente, ninguém a superava em influência, população, poderio militar, riqueza, etc. A influencia da família real era tão grande que, mesmo sendo uma civilização entre outras naquele continente, era ela que regia sobre as demais.
E, naquele momento, a capital de Piena estava tendo um torneio de lutas que acontecia uma vez por ano.
E por ser a maior civilização no mundo, a audiência para o torneio também era a maior do mundo. Os participantes variavam entre os cavaleiros de Piena e soldados das civilizações vizinhas, assim como mercenários. Santas também participavam utilizando-se das bênçãos dada pelos deuses. Guerreiros livres e pessoas comuns que diziam possuir alguma habilidade, todos tinham o direito de participar.
As portas estavam abertas a todos os humanos, e o número de participantes passava dos 1.500.
Porém, o nome Adlet Maia, não estava na lista do torneio.


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"São as semifinais! No lado direito, pertencendo a brilhante cidade de Piena, o comandante da guarda pessoal do rei, Batwal Reinhook."
Um cavaleiro experiente com cabelos grisalhos aparecia do lado direito da arena, acompanhado de aplausos da multidão que ali estava para assistir o combate.
"E, no lado esquerdo, pertencendo à nação Toman, que fica na floresta, um representante dos mercenários Ursos-Pardos, Kuato Guinn"
Um guerreiro, que mais parecia um gigante, encontrava-se no lado esquerdo da arena. E os espectadores torciam para ele, tanto quanto para o outro homem.
Finalmente depois de um mês de torneio, o mesmo chegava próximo do seu fim. Havia apenas três participantes restantes, e apenas mais duas lutas. E mais de 10.000 pessoas esperavam para ver a conclusão do evento.
A arena em si era no centro de um templo, localizado abaixo da residência Real. Na verdade, podia se dizer que a arena era o principal motivo do templo da deusa do destino existir. E, na entrada sul da arena, ficava uma estátua da deusa segurando uma flor, observando imparcialmente os dois guerreiros.
"Ambos os nomes dos lutadores são conhecidos pelas civilizações. Porém, esta não é uma final qualquer. Não só o Rei está assistindo a essa luta, como também está acontecendo na presença da deusa do destino, e, por esse motivo, espero que ambos os guerreiros façam uma luta justa."
O primeiro ministro de Piena encarou os dois lutadores e explicou as regras, mas nenhum deles o escutava. Eles apenas encaravam um ao outro intensamente. E nesse clima pesado, até mesmo os espectadores ficavam cada vez mais tensos com a antecipação do combate.
Esta competição tinha um significado especial.
Havia um rumor entre os participantes, que o campeão do torneio seria escolhido como um dos Heróis das Seis Flores.
"Como vocês sabem, o vencedor desta batalha irá enfrentar a Princesa Nashetania, vencedora do torneio anterior a este. Qualquer um que faltar com honra na batalha, em outras palavras, um covarde, não tem as qualificações necessárias para enfrentar a princesa. Porém esses dois famosos guerreiros, mais do que qualquer um..."
E assim, o primeiro ministro de Piena continuou seu discurso. Porém durante esse momento, não muitos pareciam notar os estranhos eventos que ocorriam do lado de fora da arena. Um rapaz se aproximava da entrada sul da arena. E até mesmos os guardas ali não tentaram o impedir. Os guardas de honra atrás do primeiro ministro observavam com olhos desconfiados, mas eles também não fizeram nada. E até mesmo os espectadores não davam muita atenção ao rapaz que se aproximava. A sua forma de andar era tão natural, que parecia errado tentar pará-lo;
O rapaz tinha longos cabelos vermelhos, e vestia roupas normais. Sem nenhuma armadura ou elmo, apenas uma espada de madeira em suas costas. Ele também tinha quatro cintos presos em sua cintura com pequenos bolsos costurados neles. Forçando seu caminho entre os dois guerreiros, com um sorriso no rosto ele dizia, "Com licença, vocês dois."
Ouvindo o inesperado intruso, o primeiro ministro gritou bravo "Seja lá quem você for! Estais sendo extremamente rude!"
"Meu nome é Adlet Maia, e eu sou o homem mais forte do mundo."
Os dois semifinalistas encararam Adlet Maia com olhares perfurantes. Porém, Adlet pareceu nem percebê-los.
"Eu gostaria de falar para vocês sobre uma pequena mudança nessa batalha. Eu, Adlet, o mais forte homem do mundo, irei lutar contra vocês dois!"
"Seu idiota! Por acaso é louco!"
Adlet ignorou calmamente o primeiro ministro histérico. Mas, naquele momento, os espectadores finalmente compreenderam a situação, e todos explodiam em ódio.
"Hey, vocês! Livrem-se desse idiota", o mercenário que tivera a batalha interrompida gritou para os guardas de honra, que estavam parados atrás do primeiro ministro.
E foi naquele momento que os guardas finalmente lembraram, de que eles supostamente deveriam fazer alguma coisa.
E no momento que os guardas de honra sacaram suas armas, Adlet deu um grande sorriso.
"Que a luta comece!"
No próximo momento Adlet movimentou suas mãos mais rápido do que os olhos podiam acompanhar. Então algo disparou das pontas de seus dedos e acertou a cabeça dos guardas de honra, fazendo-os segurarem as próprias cabeças de tanta dor.
"Fácil como eu pensei"
Os guardas não estavam mais no caminho do rapaz. Agora, ele apenas encarava o Cavaleiro e o mercenário, ambos parados em lados opostos a ele.
Os guardas, porém, haviam tirado os dardos que Adlet havia jogado neles. Eles eram banhados num veneno que estimulava a dor. Mesmo Adlet usando apenas um pouco do veneno, ainda iria doer por mais 30 minutos.
Finalmente realizando que o intruso não era uma pessoa qualquer, os guardas de honras e o cavaleiro preparam suas espadas ao mesmo tempo. Então, sem nenhuma hesitação, atacaram Adlet.
Se o rapaz tivesse tentado defender o ataque deles com sua espada de madeira, ele certamente teria morrido. Mas Adlet esquivou dos ataques dos guardas. E, no mesmo segundo, o cavaleiro atacou ele pelas costas. Porém, movendo-se mais uma vez, mais rápido do que os olhos podiam acompanhar, Adlet alcançou um dos pequenos bolsos em um de seus cintos, e dele tirou uma pequena garrafa, que jogou para trás por cima de seus ombros.
O cavaleiro repeliu a garrafa com o centro de sua espada. Porém, ela só tinha água, mas criava uma oportunidade. O cavaleiro e os guardas mantinham distância e ficavam em uma formação de pinça na frente e nas costas de Adlet. Se fosse uma luta comum, seria o fim para o intruso. Porém, para o rapaz, era oportunidade que ele precisava para garantir sua vitória.
Adlet, tirando um pequeno pacote de papel de um dos seus bolsos, jogou-o no chão, causando, no mesmo instante, uma cortina de fumaça que encobria a todos.
"Quem diabos é ele?!"
"Ele é um TRAPACEIRO!" Ambos, o mercenário e o cavaleiro, gritaram ao mesmo tempo.
Obviamente eles não eram pessoas que perderiam para um simples trapaceiro. Mas os movimentos de Adlet eram rápidos e incríveis.
Aproveitando que os inimigos ainda estavam cegos dentro da cortina de fumaça, Adlet preparava o próximo equipamento que iria utilizar que estava dentro de um dos seus incontáveis bolsos. Primeiramente, ele pulou em direção ao cavaleiro, com sua espada de madeira em mãos, ele atacava as costas do oponente.
"Fraco!"
No momento em que o cavaleiro repeliu seu ataque, Adlet soltou a espada e segurou os braços do inimigo, puxando-o para próximo dele. Em seguida, mordeu os próprios dentes.
Talvez, por alguns segundos, o cavaleiro viu o pavio que Adlet colocou em sua própria boca. Mas então, uma faísca acompanhada de um jato de álcool direto da boca do rapaz se irrompeu em chamas.
"GAAH", o cavaleiro gritava enquanto fogo se espalhava em seu rosto.
E, ao mesmo tempo, ainda segurando nos braços do cavaleiro, Adlet invertia sua posição, e então, jogava o oponente por cima de seus ombros. O cavaleiro caiu de costas no chão e parou de se mexer.
Logo após, Adlet se virou para encarar o mercenário atrás dele, porém, ele não fez nenhum movimento para atacar. Na verdade, seu ataque já tinha sido feito.
Aos poucos, enquanto a fumaça ia se dissipando, todos podiam ver o mercenário abaixado. Ele estava segurando a perna e gritando em agonia.
"Perdoe-me. A agulha envenenada provavelmente dói, tenho certeza que você preferiria que eu tivesse te derrotado com outra arma secreta."
Adlet tinha as sobrancelhas a se juntar enquanto gargalhava.
Onde Adlet se encontrava antes, havia várias agulhas espalhadas pelo chão. E levando em consideração que elas eram pintadas do mesmo cinza que era o piso da arena, era difícil vê-las sem forçar a vista. E assim como o seu ataque anterior, essas agulhas também estavam envenenadas.
Provavelmente foi no momento em que o mercenário correu para dentro da fumaça, em uma tentativa de atacá-lo pelas costas, que ele pisou nas agulhas. Se o mercenário estivesse usando uma bota de aço ou de um couro forte, ele nem teria sentido as agulhas. Porém, Adlet havia visto os calçados do cavaleiro e do mercenário quando ele se aproximou. E partindo do ponto que se movimentar rápido era essencial para o seu tipo de trabalho, o mercenário vestia uma sandália feita de um material fino que não pesava quase nada, e que, por consequência, foi facilmente penetrado pelas agulhas.
"Independente do ponto de vista, EU sou o vencedor!!" Adlet gritou, mas os espectadores apenas observavam em silêncio. Talvez eles não conseguissem acreditar no que eles ouviam. Eles não podiam aceitar que dois guerreiros que eram os mais poderosos naquele torneio foram derrotados por um rapaz qualquer, em dez segundos.
"O qu... O que vocês estão fazendo! Rápido, venham! Cerquem-no! Cerquem e o capture! Gritava o primeiro ministro em pânico para os soldados na área. Sem pensar duas vezes, os soldados preparam suas lanças, e correram até o centro da arena.
No momento que os soldados iam atacar Adlet, o rapaz gritou em direção a estatua da deusa, que assistia a batalha.
"Meu nome é Adlet Maia! Eu sou o homem mais forte do mundo! Você consegue me escutar deusa do destino?! Eu não aceitarei nada menos do que ser escolhido como um dos Heróis das Seis Flores."
Os soldados correram em direção a Adlet, e então, finalmente, os espectadores entenderam o que havia acontecido.
"Guardas Reais! Saquem suas espadas! Prendam esse rapaz!" Mas os espectadores não apenas gritaram, alguns até correram para dentro da arena.
Enquanto isso, o cavaleiro e mercenário derrotados se levantavam, e mais uma vez encaravam Adlet.
Depois daquilo, o sagrado campo de batalha onde as pessoas demonstravam sua força ante a deusa do destino se tornou uma grande briga de rua.
E, daquele dia em diante, Adlet Maia, ficou conhecido através do mundo como, Adlet o trapaceiro invasor, Adlet o covarde, e o pior dos candidatos para ser uma das Seis Flores em toda a história.  


Mil anos atrás, uma entidade feita de puro mal apareceu no continente. Os humanos sabiam pouco sobre sua existência. De onde veio, por que havia nascido? No que pensava, qual seu objetivo? Ou mesmo se tinha alguma forma de raciocínio? Eles nem mesmo sabiam se era uma criatura viva ou não. Tudo o que eles sabiam era que havia aparecido inesperadamente sem nenhum aviso.

Apenas alguns sobreviveram ao encontro com aquela coisa. De acordo com seus testemunhos, a entidade tinha algo entorno de 10 metros de altura. E que seu corpo não tinha uma forma exata, parecia mais uma gosma, um lodo vivo que se movimentava. Veneno espirrava de seu corpo, e o ácido que saía de seus tentáculos dissolvia tudo o que tocava, e tal criatura se tornou um pesadelo quando começou seu ataque contra a humanidade. Porém, ela não comia seres humano para se alimentar, apenas os matavam pelo simples motivo de matar. E quando partes de seu corpo eram cortadas, essas partes ganhavam vida e se tornavam sua cria que, por consequência, matava ainda mais pessoas.

A criatura não tinha um nome, afinal, não era necessário dar um. Não havia nada parecido com ela no mundo inteiro.
Então, a entidade maligna era simplesmente chamada de Majin.

Naquele tempo, o continente era governado pelo grande império de Rohane. Mas, mesmo utilizando todas as suas tropas para combater a monstruosidade, eles não conseguiram vencer o Majin.

Nações foram destruídas, famílias reais morreram, vilas e cidades queimaram até desaparecer. As pessoas estavam desesperadas e acreditavam que não havia mais salvação para elas. Mas então, surgindo do nada, uma única Santa surgiu.

Ela enfrentou o Majin com apenas uma flor como sua arma. E apesar dela ser uma mulher, ela era o único ser capaz de lutar contra o Majin. Foi uma batalha longa e difícil, mas, eventualmente, a Santa expulsou o Majin para a parte mais isolada do continente e o derrotou.

Porém, quando a santa retornou, ela disse que Majin não estava morto, e que um dia ele iria acordar de seu sono e transformar o mundo em um inferno. A santa previu que quando ele despertasse, seis heróis que herdariam seu poder apareceriam. E com esse poder, era missão deles derrotar o Majin e o fazer entrar em seu estado de sono profundo mais uma vez.

No corpo dos seis heróis escolhidos apareceria um brasão na forma de uma flor com seis pétalas. E por causa desse fato, as pessoas os chamavam de heróis das seis flores.

No passado, o Majin despertou de seu sono duas vezes. E nesses dois momentos, como previsto, os seis heróis apareceram e o derrotaram.

Havia apenas uma condição para ser escolhido como um dos heróis das seis flores. Candidatos em potencial teriam que demonstrar suas habilidades nos templos da deusa do destino, que foram construídos pela primeira santa que lutou contra o Majin. Existiam 30 templos no continente, e o número de pessoas que os visitavam para demonstrar suas habilidades passava facilmente dos 10.000.
Quando o Majin acordasse, os mais fortes entre eles receberiam o brasão das Seis Flores. Para um guerreiro, não existia honra maior do que ser escolhido, e todos sonhavam em ser um dos seis. Adlet não era exceção.

O tempo para o Majin acordar estava próximo, os sinais já começavam a aparecer. No máximo daqui um ano, mas pelo o que todos sabiam, poderia acontecer amanhã.


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“... Você está pensando nas suas atitudes? Que talvez tenha feito algo errado?”

Havia se passado três dias das semifinais, e Adlet estava na prisão. Na sua frente, do outro lado das barras de ferro, encontrava-se o primeiro ministro, observando Adlet com uma expressão reprovadora.

Adlet tinha ferimentos graves, sua cabeça, ombros e ambas as suas pernas estavam enfaixadas, assim como seu braço direto preso em uma tipoia. Porém, aquilo já era esperado, pois não havia como ele ser atacado por tantos soldados e sair sem nenhum ferimento.

Sentando-se na cama fria e encarando o primeiro ministro, ele dizia. “Eu deveria ter dito isso antes, mas eu de fato tentei entrar no torneio pelas maneiras legais, mas talvez pelas regras, ou algo do gênero, eu não fui permitido participar, independente do que eu falasse ou fizesse.”
“Como você deve saber, eu sou o homem mais forte do mundo, mas aquelas regras eram as únicas coisas que se demonstravam problemáticas para mim. Então, por causa disso, eu percebi que não teria como eu entrar normalmente, e resolvi fazer da minha forma.”

“Qual seu objetivo?”

“Deveria ser óbvio, não concorda? Meu objetivo é me tornar um dos Heróis das Seis flores.”

“Você disse Seis flores? Você? Por acaso está dizendo que alguém como você, merece a honra de ser um dos seis?”

“Eu serei escolhido. Já foi decidido. Afinal de contas, eu sou o homem mais forte do mundo.”

Adlet ria, e o primeiro ministro batia nas grades da cela. Esse velho precisa de mais controle.
“...Então você não refletiu em nada suas atitudes.”

“Eu estou refletindo. Mesmo. Os guardas de honra e os da arena.... Eu penso em todos os ferimentos que eu causei a eles.”

“Como você se sente a respeito da confusão que você causou na arena?”

“Pouco me importo com isso.” Disse Adlet, fazendo com que o primeiro ministro sacasse sua espada. E em seguida, tentasse quebrar o cadeado da cela, porém ele foi parado pelos guardas.

“Escute aqui rapaz, eu me recuso a escutar suas baboseiras por mais um segundo sequer. Eu vou pendurar você pelo pescoço, pode ter certeza!!”

Os soldados, com alguma dificuldade, conseguiram acalmar o primeiro ministro e, juntos, eles deixaram a prisão. Adlet, então, sentou-se na cama e deu de ombros para toda aquela confusão.

Lembrando-se da luta que ele teve três dias atrás, com o cavaleiro e o mercenário. Ambos eram terrivelmente fortes. Se apenas uma de suas táticas houvesse falhado, então, provavelmente, teria sido ele o derrotado.
De qualquer forma, ele conseguira vencer. Mesmo a luta tendo sido bruta, ele saira vitorioso. Isso era prova suficiente, que ele era o mais forte do mundo.
“...Porém, tem algo que eu me arrependo,” Adlet resmungava enquanto rolava pela cama. Era a princesa Nashetania.

Nashetania Lousie Piena Augustra. A primeira princesa do grande reino de Piena. E mesmo o seu sangue nobre garantindo que ela a herdeira de direito ao trono, ela também era a pessoa mais forte de Piena. Sendo ela uma santa que havia recebido o poder da deusa das lâminas, ela podia criar espadas a partir do nada.

Nashetania ganhou o torneio anterior a esse, e tinha sido decidido que o vencedor da luta, que Adlet havia interrompido, iria lutar contra ela nas finais.

Adlet queria poder lutar com ela, E se ele não conseguisse, queria pelo menos poder ver o rosto dela. Assim que derrotou o cavaleiro e o mercenário, ele ponderou se, por alguma chance, ela apareceria, mas no final, ela não apareceu.

Bom, isso não faz nenhuma diferença, ele pensou, suspirando uma vez.
“Ah, achei você”, disse alguém parado na frente de sua cela. A voz e a pessoa estavam completamente fora de lugar na prisão horrenda.

“...Quem é você?”

Era uma linda garota loira. E como se simplesmente olhá-lo a deixava calma, ela tinha um grande e amável sorriso no rosto. Ela vestia uma roupa preta de serviçal, mas não combinava com ela nem um pouco. Roupas de serviçais combinavam com garotas mais retas.

“Adlet-san, certo? Desculpe-me, mas poderia vir até aqui?” A garota gesticulava para ele repetidamente com a mão.

Confuso, Adlet se sentou e se virou para as barras. Enquanto ele se aproximava da garota, um cheiro doce de maçã invadia seu nariz. Como se fosse algo que ele nunca havia cheirado antes, ele pensou que a fragrância era estonteante.

“Por favor, aperte minha mão.” Inesperadamente, a garota colocou a mão dela através das grades.

“Huh?”

“Desculpe-me pela invasão inesperada, mas eu tive a oportunidade de ver você lutar três dias atrás. Eu fui tão movida pela sua performance, que agora me tornei sua fã.”

“...Huh? huh?” Com o cheiro da garota confundido seus pensamentos, aqueles sons eram os únicos que ele conseguia fazer.


“Por favor, aperte minha mão. Vamos aperte”

Adlet fez como foi pedido, e gentilmente apertou a mão que a garota havia estendido.

A garota apertou a dele também, e disse “Adlet-san, você está muito nervoso, Por acaso essa é a primeira vez que você segura na mão de uma garota?”

A garota então cobriu a boca e riu do rapaz. Em resposta, Adlet soltou a mão dela rapidamente.
“O que você es-está dizendo? Estou calmo. Já segurei muitas vezes.”

Ela rindo disse. “Mas seu rosto, está todo vermelho.”

Enquanto ela dava risada, Adlet sentiu que o cheiro de maçã, estava ficando cada vez mais forte. Então, ele virou seu rosto corado para o lado e escondeu suas bochechas.
“Como você pode ser tão terrível com garotas, mesmo sendo tão forte?”
“Fale o que quiser, mas Adlet Maia é o mais forte do mundo. E o mais forte do mundo não é terrível com nada.”

“...Estou feliz de ter vindo. Você realmente é uma pessoa interessante”, a garota disse com um sorriso. “Eu não sei nada sobre você, Adlet. Então, se importaria de me falar um pouco sobre você?”

Adlet concordou. A garota com cheiro de maçã tinha um sorriso brincalhão. Falando nisso, eu ainda não ouvi o nome dela, Adlet pensou.

Adlet Maia iria fazer 18 anos nesse ano, Sua cidade natal era uma pequena nação localizada em uma remota região ao oeste. Era chamada de Woeo, a nação do lago branco. Devido a algumas circunstâncias ele deixou sua cidade quando ele tinha 10 anos. Ele não tinha namorada, nem amigos. E desde que ele era pequeno, não possuía nenhuma família em todo o mundo.

Por um longo tempo ele se isolou nas montanhas com seu mestre, treinando dia e noite para ser capaz de derrotar o Majin. Polindo suas habilidades com a espada, treinando seu corpo e aprendendo como fazer e usar cada uma de suas armas secretas.

O estilo único de luta que usava era o resultado de combinar sua técnica com a espada e as várias armas secretas que ele possuía.

Ele não pertencia a nenhum lugar, e não seguia o comando de ninguém. Ele apenas continuava a treinar como um guerreiro independente, com o único propósito de derrotar o Majin. Esta era a história de Adlet. Pessoas que seguiam o caminho da espada, normalmente, ou eram soldados ou mercenários. Pois assim, além de lutar, eles também ganhariam dinheiro e fama. Entretanto, Adlet não tinha nenhum interesse em nenhuma dessas duas coisas. Seu objetivo era lutar contra o Majin e pronto, havia alguns poucos guerreiros sem nenhuma ligação como ele em todo o continente.

Após terminar seu longo treino ele desceu das montanhas e tentara entrar no torneio de luta em Piena, para provar a todos que ele era o mais forte do mundo. E isso foi tudo o que ele contou a garota.
A garota com cheiro de maçã escutou a história de Adlet animadamente. Mas ele não tinha ideia do que ela achava fascinante.


“...e esse é o motivo pelo qual eu fui até o torneio, para mostrar à deusa do destino que eu realmente sou o homem mais forte do mundo. Desculpe-me. Imagino que a maior parte da história foi tediosa.”


Com aquelas palavras, Adlet concluiu sua história e a garota com cheiro de maçã respondeu com aplausos. Inicialmente, ele ficou como vergonha, mas eventualmente ele se acostumou a falar. E ter uma garota tão bonita escutando sua história não era tão ruim assim, pelo contrário, fazia ele até mais alegre.


“Foi interessante. Fico feliz de ter vindo até aqui para te conhecer. E de alguma forma, eu sinto que ouvi a frase ‘mais forte do mundo’, vezes o suficiente por toda a minha vida.”


“Isso mesmo!” ‘O mais forte do mundo’ era a frase favorita de Adlet. E sempre quando ele falava dele mesmo a frase vinha obrigatoriamente junto.


“É um fato sólido que eu sou o mais forte do mundo, então, eu digo sempre que posso.”


“... mas é certo se nomear como o mais forte? Por acaso você já venceu a princesa Nashetania?” A garota disse com um ar de provocação, mas Adlet não deu bola para a provocação dela.


“Ela realmente é forte. Mas eu sou mais forte.”


“Mesmo tirando ela, ainda tem muitas pessoas fortes no mundo.”


“Claro que tem, mas eu não acredito que exista alguém mais forte do que eu.”


“...Adlet-san, qual o embasamento para você acreditar nisso?”


“Eu apenas sei que eu sou o mais forte do mundo, só isso.”


“Só isso?”


“Eu sei, a deusa do destino sabe. E para o resto, o Majin e as outras pessoas no mundo, eu apenas terei que mostrar para eles.”


“Sério? Você tem bastante autoconfiança.”


“Não é autoconfiança. É apenas um fato.”


A garota sorriu, mas ao mesmo tempo ela parecia ter problemas para dar uma resposta. Bom, confusão era esperada, Adlet pensou. Esta era a primeira vez que a garota encontrava o homem mais forte do mundo afinal de contas.


“Falando nisso, você se importa se eu fizer mais uma pergunta?”


“Claro que não, o que seria?”


“Eu pretendo logo fugir desta prisão. Você por acaso não conhece alguma maneira?”


“Você quer sair daqui? Para o quê?”


Essa garota tem coragem, Adlet pensou, esperando uma resposta completamente diferente dela.


Adlet contou à garota, que o primeiro ministro ia pendurar ele pelo pescoço. E por ele estar na cadeia, ele não podia fazer muito para fugir da sentença de morte. A garota tocou a ponta do queixo enquanto pensava.


“Eu acredito que você não tem com o que se preocupar, o primeiro ministro estava bravo, mas eu acredito que ele não vai ir tão longe e executar você. Afinal, o que você fez não é razão para uma pessoa morrer.”


“Mesmo? Então não tem problema.”


Adlet estava aliviado, já que sua condição atual tornava difícil uma fuga da prisão “
“O que aconteceu com o torneio depois? Foi parado?”


“Não. Suas ações... não foram levadas em conta. Ontem eles lutaram de novo, e o mercenário Kuato Venceu as semifinais por muito pouco. Então, Nashetania derrotou ele completamente nas finais.”


Por acaso ela se referiu a princesa de maneira informal, ou eu estou imaginando coisas?


“Devo admitir que isso foi inesperado. O mercenário realmente venceu? Eu achei que o cavaleiro era um pouco melhor do que ele.”


“Então... quando você arremessou Batwal-san, você feriu o ombro dele.”


“Quem sabe o erro dele foi ter me subestimado.”


Depois daquilo, Adlet e a garota apenas jogaram papo fora. Falaram sobre como as pessoas ficavam com medo quando ficavam de frente com a realeza de Piena, e o valor das coisas, que parecia crescer assustadoramente. A garota era franca, então, falar com ela era fácil. E apenas conversar por conversar era divertido.


“Ah” O rosto da garota tomou um ar de seriedade, como se ela lembrasse algo. “Eu esqueci que eu tinha um motivo para vir aqui falar com você.”


“O que seria? Você parece nervosa.”


A garota respirou e então, num sussurro, ela perguntou, “Por acaso você já ouviu falar do assassino das Seis Flores?”


“O que é isso?”


“Tinha um cavaleiro que pertencia à nação da fruta amarela, conhecido como Martola Wichita. Você ouviu falar dele?”


“Ah, eu conheço o nome.”


No mundo, havia muitos rumores de quem seria escolhido como um dos heróis, porém, no meio das conversas, havia um nome que ele ouvia repetidamente. Era o nome de um jovem prodígio, dito ser o maior arqueiro em todo o mundo.


“Por acaso você ouviu falar de Foudelka pertencente à nação das areias douradas? Ou Ashley, a santa do gelo?”


Adlet fez que sim com a cabeça. Ambos eram nomes conhecidos de guerreiros famosos.


“O que aconteceu?”


“...Eles foram assassinados. Ninguém sabe quem é o assassino. “


“Poderia ser um Kyoma?”


“Talvez.”


As criaturas vivas que serviam ao Majin eram conhecidas como Kyoma, e elas estavam se preparando para o despertar do Majin, planejando secretamente emboscar e matar os seis heróis.  Elas estavam escondidas em todo o continente, bolando vários esquemas. E como se não fosse tudo, eles estavam matando qualquer um que poderia ser escolhido como um dos Heróis das Seis Flores.


“...Criaturas como os Kyoma não podem ser facilmente derrotadas. Como diabos se derrota eles?”


“Eu não sei.”


“Isto é complicado.”


“Adlet-san, Eu acho que é melhor você permanecer aqui. Não importa para onde você vá, o perigo não vai mudar, mas pelo menos a prisão está sobre cuidado intenso de vários soldados.”


“Tem razão. Bom, eu vou ficar por aqui enquanto meus machucados não estiverem curados.”


Como se ela tivesse terminado de contar para ele o que ela precisava falar, a garota olhou para o lado e disse. “Desculpe-me, mas já está na minha hora de ir, mas eu sinto que se eu for, você vai ficar bravo. Bom, você já aprece bravo, mas vai ficar mais ainda.”


“Eu não me importo. Vá.”
Ela acenou rapidamente com a cabeça, mas quando ela estava prestes a partir, Adlet segurou no braço dela repentinamente, e disse. “Se você encontrar a princesa diga que ela certamente será escolhida como uma das seis flores. E que eu estou ansioso para o dia que nós possamos lutar juntos lado-a-lado.”


“...huh?” A garota abriu a boca distraidamente. Então, por alguma razão, ela começou a rir.


“O que foi?”


“Nada, desculpa. Eu vou falar para ela por você. Quer dizer, isso se eu a encontrar...”


A garota começou a andar, então, olhou por cima do ombro e mostrou a língua.


“Adlet-san. Você não é muito esperto.”


Ele estava pensando em perguntar o que ela queria dizer com aquilo, mas ela já tinha ido. Então, por algum tempo, ele ponderou o que ela queria dizer, mas percebendo que não iria dar em nada, ele resolveu deixar de lado.


Adlet, deitando na cama e olhando para o teto, pensava sobre o Assassino das Seis Flores.


“...Assassino das Seis Flores huh? Eu provavelmente terei que lutar contra eles quando eu for escolhido.”
Até aquele momento, Adlet tinha mostrado um grande e radiante sorriso. Mas agora, seus olhos estavam cheios de um ódio silencioso.


Exatamente como a garota havia dito, a punição dele foi ser mantido na prisão, sem data para ser solto.


Bom, se era isso que ele teria que sofrer, então, nada contra. Ele iria aproveitar para ficar sozinho e deixar seu ferimento sarar.


Depois de vários dias, Adlet encontrou uma espada escondida embaixo de sua cama.  Ela era provavelmente para proteção, se a necessidade aparecesse, mas ele não sabia se tinha sido a garota com cheiro de maçã que tinha colocado a espada secretamente em sua cela, ou se tinha sido algum outro fã dele que o tinha feito.


Um mês se passou, então, dois. Durante aquele tempo, Adlet continuou a treinar em sua cela, para que seu corpo não ficasse fora de forma. Porém, o assassino das seis flores nunca apareceu.


Quando o terceiro mês acabou, suas feridas estavam todas curadas. E, por isso, ele começou a planejar sua fuga.


Mas, uma noite, uma estranha sensação em seu peito o acordou. Seu corpo inteiro queimava, e seu coração batia em uma velocidade descomunal. Então, depois de dez segundos, um brasão brilhando fracamente aparecia em sua mão direita.


O Majin havia acordado. E adlet havia sido escolhido como um dos Heróis das Seis Flores.


“Mas que m....” Adlet sussurrava enquanto olhava para sua mão.


“Aconteceu tão rápido”


Ele imaginava que seu corpo seria banhado por uma luz branca, e a deusa do destino em pessoa iria lhe dar a missão de derrotar o Majin.


Sentindo-se um pouco decepcionado ao olhar para o brasão, logo, ele dispersou seus pensamentos.


“He, alguém aí?!“ Adlet gritava para os guardas, se eles soubessem que ele havia sido escolhido como uma das Seis Flores, então, obviamente, eles o libertariam. Porém, parecia não ter nenhum guarda ali por perto.


“Tem alguém aí? Eu fui escolhido como uma das Seis Flores!”


Sua voz ecoava por dentro da cadeia. Ele não conseguia nem sentir a presença dos guarda. Entretanto, no momento que ele achou que não tinha nenhuma opção a não ser escapar, ele ouviu uma algazarra de sons vinda do andar de baixo dele.


“Porque você veio aqui? O que diabos você quer em um lugar como esse?”


“Batwal. Saia da minha frente e não interfira.”


Ele lembrava de ambas as vozes. Uma era da garota com cheiro de maçã. E a pessoa seguindo ela não seria o cavaleiro que eu lutei na arena? Porém, aqueles não eram os únicos sons que ele ouvia. Junto aos dois, ele também escutava o barulho de vários passos ao chão.


“Adlet-san. Você foi escolhido?“


A garota correu até a cela de Adlet. Ela não estava vestindo o uniforme de serviçal, que usara da última vez, mas sim, uma armadura branca e elegante. E um florete [1] prendido em sua cintura. Ela também vestia um elmo com orelhas de coelho. Ele tinha ouvido rumores de que fazer elmos com algum traço de animal era tradição na família real de Piena.


E no momento em que ele a viu, Adlet compreendeu a verdadeira identidade da mesma, e quão idiota ele era.


Então, a garota, em frente a sua cela, disse “Quanto tempo Adlet-san. Permita que eu a me apresente formalmente. Meu nome é Nashetania Louie Piena Augustra. Eu sou a primeira princesa de Piena e também a atual Santa das Lâminas.”


Nashetania mostrou parte de seu peitoral para Adlet, e nele tinha o brasão das Seis Flores.


“E agora que eu fui escolhida como um Herói das Seis Flores, estou ansiosa para trabalhar com você.”


“Eu Adlet Maia, o homem mais forte do mundo, sinto o mesmo.“ Disse o rapaz mostrando para ela o brasão em sua mão direita.


“Princesa! O que diabos você está fazendo! Você não deveria estar falando com alguém como ele!”


Adlet mostrou o brasão para o soldado também. Os olhos dele saltando perante aquilo. E então, ele ficou quieto.


“Vamos rápido, nosso tempo é limitado.”


Nashetania abriu a cela e puxou Adlet para fora. Então, os dois saíram correndo, sem dar atenção aos gritos dos outros soldados que chegavam ali naquele momento.


“Vamos usar os cavalos,” Aldet sugeriu.


“Por aqui!”


Ambos pularam por uma anela e aterrissaram em um monte de feno. Lá, um dos serviçais de Nashetania tinha dois cavalos preparados para a fuga deles.


“Tome cuidado, minha senhora,” a serviçal disse.


“Pode deixar,” Nashetania respondeu. “Vamos!!”.


Nashetania e Adlet montaram em seus cavalos e fugiram velozmente de lá antes que mais alguém aparecesse. Olhando para as costas da princesa, Adlet sorria. Essa garota havia planejado tudo perfeitamente. E como se ela sentisse o olhar dele, Nashetania olhava para trás, e respondia ao sorriso dele, com um próprio dela.


                                                                            #


Mil anos atrás, uma mulher chamada de Santa da Única Flor derrotou o Majin, fazendo-o entrar em um sono profundo. Ele dormia ao oeste, em um lugar chamado de Península de Balca. Hoje, é parte da linha de ferro que pertencia à nação de Gwinvarell.


A península tinha o formato de um frasco de bebida. Foi decidido que os Heróis das Seis Flores se reuniriam neste local. Cada herói estava devidamente informado daquilo, e não importava de onde eles eram, se esperassem naquele local, eventualmente, eles iriam se juntar.


Mas mesmo depois que o Majin acordasse, iria levar algum tempo até recuperar seu poder total. Este era o momento que os seis heróis, teriam que achar um eito de chegar à península de Balca e derrotar o Majin, antes que ele despertasse todo o seu poder.


Mas havia 10,000 Kyomas esperando os seis heróis na península. E como apenas os seis heróis podiam entrar naquele local, seria uma longa e dolorosa batalha. No passado, em cada uma das duas batalhas, metade dos heróis haviam sacrificado suas vidas.


Porém, os escolhidos para serem os Seis Heróis não temiam a morte.


Os gritos de dor dos Kyoma percorriam todo o território da Península de Balca. E por causa disso, o local era chamado normalmente por outro nome em vez do oficial, era conhecido como a terra dos Demônios Atormentados.


                                                                                    #


Após deixar o reino de Piena, a primeira coisa que Adlet e Nashetania fizeram foi parar na casa escondida do rapaz. Lá ele tinha preparado um monte de equipamentos e itens para a sua jornada. Em seguida, ele guardou várias armas secretas nos bolsos pequenos em seu cinto. E prendeu uma larga caixa de metal em suas costas, nela, havia bombas, venenos e mais armas secretas, que eram essenciais para derrotar o Majin, e sem elas, Adlet não podia se chamar de o homem mais forte do mundo.


A caixa de ferro era robusta e pesada ao ponto de que um homem comum perderia o fôlego de apenas carregá-la. Porém, não parecia nada pesada para Adlet.


Após pegar os mantimentos, os dois viajaram nos cavalos por um dia inteiro, deixando Piena e entrando em Fandawen, a nação da fruta amarela.


“Eles pararam de nos seguir.”


“.............Eles provavelmente desistiram.”


Adlet e Nashetania olhavam para trás enquanto conversavam. Eles estavam discutindo sobre os planos para derrotar o Majin.  


“Você não está sendo um pouco fria? Eles só devem estar preocupados com você...”


“Realmente, mas eles são tão chatos.”


Adlet se dirigia a Nashetania como um igual, afinal, ambos eram Heróis das Seis Flores, e Nashetania também via a relação deles daquela forma.


Se preocupando com a exaustão dos cavalos, os dois diminuíram a velocidade dos animais e seguiram pela estrada. Havia árvores frutíferas que se estendiam ao redor deles. Assim como era nomeada, Fandawen era a nação em que podia se encontrar as mais diversas e deliciosas frutas.


“Lindo. Esta é minha primeira vez vendo pomares.”


“Sério?”


Nashetania parecia estar se divertindo enquanto observava o lugar a sua volta. Apesar de ser uma visão comum para Adlet, para ela, provavelmente, era algo completamente novo. Então, uma carroça carregando limões passava por eles.


“Com licença, tudo bem se eu pegar uma?”


O que ela está fazendo?


Sem esperar pela resposta do dono da carroça, Nashetania pegou um dos limões. Então, o apertou e chupou todo o suco da fruta.


“Estava uma delícia, obrigado pelo limão.”


Ela então limpou a boca e jogou a casca para o dono da carroça. Adlet já imaginava isso, mas ações dela só mostravam quão estranha era ela.


“Levando tudo em consideração, é uma cidade pacifica,” Nashetania disse enquanto lambia os sucos da fruta em sua mão. “Eu pensava que o despertar do Majin, seria um evento muito mais grandioso.”


“Este é apenas o jeito que as coisas são. O mundo também parecia estar em paz da última vez que o Majin acordou e da vez antes dessa. Na verdade, a única comoção que o correu foi próximo às terras dos Demônios Atormentados,” disse Adlet. “Mas tudo vai parar de ser pacifico se nós falharmos.”


“Isso mesmo. Então, vamos fazer o nosso melhor.”


Enquanto eles falavam, outra carroça passou, essa, cheia de cenouras. Nashetania pegou uma das cenouras novamente sem pedir permissão.


Ele estava pensando que ela não iria comer pura, mas então, ela fez algo que ele não esperava. Uma fina e pequena lamina surgiu no ar, e descascou perfeitamente o legume em um piscar de olhos.


“Esse é o poder da Santa das Lâminas?”


“Isso mesmo. É incrível, não é? Mas isso porque eu sou uma Santa.” Nashetania disse enquanto mordia um pedaço da cenoura.


“Eu posso fazer esse tipo de coisa quando eu quiser.” Ao dizer isso, ela ergueu seu dedo indicador.


Uma lâmina surgiu do chão. Tinha em torno de 5 metros de altura, fina e incrivelmente afiada. Poderia atravessar tanto humanos quanto Kyomas sem nenhuma dificuldade.


“Mas isso...”


Ela apontou o dedo indicador para Adlet. Lâminas com mais ou menos 30 cm de tamanho se materializaram em torno do dedo dela. E, uma por uma, as lâminas voaram em direção ao rosto de Adlet.


“O que está fazendo, sua louca!?”


“Você não consegue desviar de um ataque como esse?”


Rindo, Nashetania continuou a atirar as pequenas lâminas em Adlet. Apesar de ele conseguir desviar dos ataques simples, por dentro, ele estava chocado pelo poder dela. Era o poder da Santa das Lâminas.


Santa era o termo comum para guerreiras que possuíam habilidades sobrenaturais. Menos de oitenta existiam em todo o mundo, e todas elas, sem nenhuma exceção, eram mulheres.


Era dito que as Santas eram abençoadas pelos deuses, por isso, tinham tais poderes. Então, para Nashetania, que possuía o poder das lâminas, ela tinha, por consequência, a benção da deusa das Lâminas.


Apenas uma pessoa poderia ter uma benção por vez. Então, atualmente, não existia nenhuma Santa com os mesmos poderes que Nashetania. Se ela morresse, então, o poder passaria para outra pessoa. Além de Nashetania, a Santa das Lâminas, também existiam a Santa do fogo, gelo, montanhas e várias outras, cada uma possuindo poderes diferentes. Normalmente, algumas delas sempre eram escolhidas para serem uma das Seis Flores.


E, no passado, a Santa da Flor Única, que havia derrotado o Majin, havia sido abençoada pela deusa do destino.


“Pare com isso!” Adlet pegou uma das lâminas de Nashetania que voaram até ele e arremessou nela. Acertando seu elmo e o fazendo cair no chão.


“Perdão, eu me empolguei.”


“Sim, definitivamente.”


“Você está bravo?”


“Bravo? Estou furioso!”


A expressão de Nashetania ficou tristonha e ela deu uma mordia triste na cenoura.


Eu provavelmente não deveria ter ficado tão bravo, Adlet pensou.


“...me desculpe,” Disse Nashetania depressiva, de uma maneira que ela nunca havia dito antes. “Sabe... eu sou meio estranha. Meu pai e as serviçais sempre estão bravos comigo.”


“Não se preocupe, não é nada importante.”


“Pessoas como eu provavelmente causam problemas similares aonde vão.”


Tem algo nessa garota que eu não consigo compreender. Ela havia aparecido em sua cela vestida de serviçal e conversando trivialidades com ele durante a estrada. E apesar de ele estar um pouco bravo com ela, era estranho ela parecer tão triste e depressiva.


Este era o problema. Como eu posso formar um laço com ela? Adlet segurou firme na sela do cavalo e abaixou sua cabeça com vergonha. Os dois continuaram o trajeto sem dizer nenhuma palavra.


Espera. Por que o homem mais forte do mundo está se deixando afetar por algo tão trivial, ele pensou. Mas, no momento que ele foi falar com ela, Adlet a notou observando ele com o canto dos olhos.


“Talvez... você pensou que eu estava realmente triste?”


“Hey!”


Nashetania colocou a mão na boca, um sorriso ladino aparecendo em sua face. Ele esqueceu que ela adorava pregar peças.


“Hahahaha, você é engraçado.”


“Droga. Você me deixou preocupado por nada.”


“Não se preocupe. Eu não fico triste tão fácil.”


Adlet olhou para o lado, bateu no cavalo com o chicote e avançou velozmente na frente de Nashetania, deixando-a para trás.


“Por favor, não fique bravo, eu só estava brincando.”


“Realmente...”


“Mas, por favor, não tenha a impressão errada. Eu normalmente sou mais gentil. É só que hoje eu estou muito feliz.”


“A partir de agora nós estamos indo até o Majin. Entendeu?”


“Eu entendo, foi só dessa vez. Desculpe-me.” Sorrindo, Nashetania abaixou a cabeça. “Esta é minha primeira vez. E apesar de eu entender que nós vamos lutar depois disso, eu não consigo me controlar.”


“Primeira vez para o quê?”


“Estando com alguém como você.”


A expressão de Nashetania mudou de uma garota travessa, para um sorriso carinhoso que é direcionado para alguém importante. Ela era uma garota de muitas expressões.


Adlet começou a se sentir envergonhado.


“Você é a primeira pessoa com quem eu posso conversar de igual para igual, a primeira pessoa que eu posso conversar honestamente sobre o que eu estou pensando e como eu me sinto.”


Ficando cada vez mais envergonhado, Adlet começou a ficar vermelho. Resolvendo observar ela rapidamente com o canto dos olhos. Ele achou que ela estava mais uma vez tirando sarro dele, mas parecia que aquele não era o caso.


“Ah, uma carroça. Vou pegar mais uma cenoura.”


Se ela sabia o que ele estava pensando ou não, Nashetania começou a comer outra cenoura. Adlet apenas deu de ombros e ficou observando.


Pelo resto do dia, Nashetania continuou fazendo tudo o que ela queria. Logo, a noite veio, e os dois prenderam os cavalos ao lado da estrada e se preparam para dormir desacampados. Crescendo no meio da riqueza e do luxo, Adlet tinha dúvidas se Nashetania seria capaz de dormir sem um teto, mas ela disse que tinha feito isso várias vezes antes, então, não seria um problema.


Assim que preparou seu saco de dormir, Adlet observou o seu arredor procurando espaços aonde alguém poderia estar se escondendo para atacá-los durante a noite. Ele sempre procurava tentar prever onde ele poderia ser atacado.


“Algo errado?” Nashetania perguntou apesar estar com os olhos fechados como se estivesse dormindo. Ela era definitivamente despreocupada.


“Bom, antes que você durma, tem algo que quero te perguntar. O que houve com o assassino das Seis Flores?”


“Pensando nisso, eu não te contei.” O rosto de Nashetania escureceu. Pelo visto não seria uma história que ela iria falar. “Eu não mencionei isso antes, mas, na verdade, meio ano atrás, Goldof saiu em uma jornada para encontrar o assassino.”


“Goldof... é um dos cavaleiros do seu reino.”


Ele conhecia o nome. Goldof Aurora, o chefe dos cavaleiros do chifre-negro. Ele era conhecido como o jovem prodígio pela armada real de Piena. E era considerado o cavaleiro mais forte de Piena, sendo equiparado com Nashetania.


“Infelizmente, eu não tenho boas notícias. Nosso último contato foi a mais de um mês e meio atrás, apenas algumas palavras sem nenhuma pista da situação em que eles se encontravam.”


“Talvez eles foram assassinados por quem eles perseguiam”


“Isso não aconteceu!” Inesperadamente, Nashetania falou de maneira mais forte. “Goldof é forte. Eu nunca o venci.”


“E o torneio do ano passado?”


Nashetania foi a campeã do torneio do ano passado. E se ela lutou contra Goldof nas finais, então, naturalmente, ele havia perdido o duelo.


“Próximo do final, ele pegou leve comigo. Não tinha muito que se fazer, nós tínhamos nossas posições para manter afinal de contas. Porém, eu não estava tão desapontada porque eu fiz ele me prometer uma coisa. Ele me prometeu que não iria morrer, para que um dia eu pudesse ter minha revanche. Ou seja, por causa dessa promessa, Goldof não vai morrer. Ele não pode morrer.”


Pensando por um momento, Nashetania susurrou no final.


“….Provavelmente.”


“Você acredita nele ou não?”


“Eu acredito nele, mas ele é um pouco jovem, ele só tem 16 anos.”


“Jovem huh? Nós não estamos em posição para dizer isso.” Falou Adlet. Ele tinha 18, e ele ouvira falar que Nashetania também tinha a mesma idade que ele. Ambos eram um tanto quanto novos para estar carregando o destino do mundo em seus respectivos ombros.


“Apesar de Goldof ser forte, muito forte. Eu ainda tenho algumas dúvidas.”


“De qualquer forma, ele encontrou alguma pista sobre as ações do assassino?”


“Sim. Cerca de um mês e meio atrás, ninguém mais ouviu falar de Leura, a Santa do Sol, nem sabem onde ela está.”


“Leura? A Santa do Sol?”


Ele conhecia aquele nome também. Ela era uma lenda viva, possuindo o poder do deus do sol.


Aproximadamente 40 anos atrás, uma mulher havia demonstrado tal poder na guerra. Dos céus caíam raios fumegantes sobre castelos, cercando os inimigos e reduzindo eles a cinzas. Foi dito que aquela única mulher destruiu sozinha mais de dez castelos. Depois, ao ficar cada vez mais velha, ela escolheu servir como a líder e conselheira das Santas. Atualmente, porém, ela já deve ter se aposentado daquela posição.


“Ela é famosa, mas ela provavelmente não está mais na idade de lutar, certo?”


“Certo. Ela já passou dos oitenta. Independente de quão forte ela é, eu acredito que o corpo dela não consegue mais suportar batalhas.”


“Isto é estranho, não acha? Deveriam existir outras pessoas para o assassino procurar. Eu, você, Goldof, Chamo do pântano... ainda existem muitos guerreiros consideravelmente fortes espalhados pelo mundo.”


“Eu também penso que é estranho, mas...” Nashetania deu de ombros. Mesmo se eles discutissem mais, não iriam entender melhor aquilo.


“É o suficiente. Não seria melhor dormimos? Nós vamos conhecer o assassino cedo ou tarde.”


“Cedo ou tarde?”


“Nós vamos lutar contra ele com certeza.”


“Você acha que eles são Kyomas? Ou talvez poderiam ser humanos?”


“Eu não sei.”


Nashetania foi dormir, e Adlet levou os joelhos até seu peitoral os envolvendo com os braços e, então, fechou os olhos. Era uma postura que ele estava acostumado a descansar seu corpo e mente enquanto mantinha a guarda.


O resto daquela noite passou sem nada acontecer, assim como na próxima e na próxima. Porém, o fato de que nada estava acontecendo fazia Adlet ficar preocupado.


                                                                        #


Os dois viajaram por dez dias. Era uma jornada forçada, e eles tiveram que trocar os cavalos várias vezes pelo caminho. Eles nunca dormiam mais de três horas por dia. Uma jornada que normalmente duraria trinta dias, eles cortaram o tempo para menos da metade.


No final da viagem, eles finalmente passaram as fronteiras de Gwinvarell, as ilhas de ferro, onde o território dos Demônios Atormentados ficava. O caminho deles ia por um vale de montanhas acidentadas, e uma densa floresta os cercava.


Cada vez mais eles ouviam as pessoas falarem do Majin. E ao se aproximarem do território dos Demônios Atormentados, a expressão no rosto das pessoas que eles viam, ficava cada vez mais severa.


E quando eles entraram de fato na nação das ilhas de ferro, eles notaram que havia muitas famílias fugindo com os seus pertences.


“....Vamos rápido.”


Assim como ele esperava, a atitude despreocupada de Nashetania havia sumido ao se aproximarem cada vez mais de seu destino. A garota tinha uma personalidade ingênua, mas era não era uma tola.


“Preste atenção. Os Kyomas vão provavelmente atacar a qualquer momento.”


“Como você sabe disso?”


“Os inimigos planejam atacar antes que nós nos juntemos. Foi o mesmo com os Seis Heróis da última vez.”


“Você esta bem informado.”


“Meu mestre me ensinou tudo o que ele sabia sobre os Kyomas. Suas espécies, habitats, seus pontos fracos e até mesmo suas formas de comportamento.”


“Estarei em suas mãos então.”


Os dois continuaram seguindo a estrada. E enquanto eles avançavam, o número de palavras dita por Nashetania diminuía. Logo, ela ficou completamente quieta.


Incapaz de ficar naquele clima, Adlet disse. “Nashetania.”


Ela não respondeu. Sua expressão era de alguém que estava pensando profundamente.


“Nashetania!”


“Sim, o quê?!”


“....Você está nervosa?”


Suas mãos segurando as selas do cavalo estavam pálidas. Ela soltou a guia do cavalo e limpou o suor de suas mãos nas pernas. Palmas suadas eram a prova de que ela estava perdendo a compostura.


“Relaxe, a luta não começou ainda.”


“Cer...certo, mas então, por que eu estou tão nervosa?”


Adlet tinha uma única pergunta que vinha em mente. “Até hoje, por acaso você esteve em um combate de verdade? Por acaso você tem alguma experiência em matar pessoas?”


“A respeito disso...”


Nenhuma, huh, Adlet pensou. Nada poderia ser feito. Afinal, ela era a princesa de uma civilização inteira.


“...Adlet, você acha que eu sou forte? Talvez, até agora, todos tenham pegado leve comigo.” Disse Nashetania enquanto olhava para as próprias mãos suadas.


“Calma, não pense assim.”


“Se eu não consigo me acalmar, mesmo enquanto não encontramos nenhum Kyoma, então...”


Ela estava tremendo, como se toda a atitude dela do dia interior tivesse sido uma fachada. Não, era mais do que isso, toda a despreocupação dela do dia anterior foi uma tentativa de esconder o seu nervosismo.


Mas Nashetania não era uma covarde. Todos se sentiam nervosos antes de sua primeira vez no campo de batalha. Não importava quão forte a pessoa era, esse fato nunca mudava.


“Nashetania, sorria.”


“Huh?”


“Sorria. Primeiro faça isso, e o resto vem naturalmente.”


Olhando para as palmas de sua mão a garota disse, “Eu não consigo, Adlet. Eu não consigo nem parar de tremer minhas mãos, então, sorrir é....” Ao dizer aquilo, ela levantou o rosto e olhou para Adlet.


Então, Adlet ergueu o nariz com os dedos e apertou as bochechas com as palmas de sua mão.


Nashetania fez um estranho som, então, colocou a mão na frente da boca e olhou para o chão.


“Viu, você riu. Mais calma agora?” Adlet perguntou.


Olhando para as mãos e medindo a pulsação em seu pescoço, Nashetania disse com um sorriso. “Eu me sinto muito melhor. Obrigada.”


Olhando para a expressão de Nashetania, Adlet sorriu. Ela estava bem. E apesar de ainda inexperiente e ingênua, em seu interior, ela tinha a essência de uma grande e completa guerreira.


“Esta foi a primeira coisa que meu mestre me ensinou. Dar risada.”


“Você teve um bom mestre.”


Eu duvido. Adlet deu de ombros.


No momento, o objetivo deles era o território dos Demônios Atormentados. Porém, primeiro todos os seis deveriam se reunir. Apesar de que, não duvido que encontremos vários problemas antes disso acontecer.


Então, naquele momento, um homem segurando uma criança e uma mulher com um ferimento na perna correu em direção a eles.


“O que houve?” Nashetania desceu do cavalo e se aproximou dos dois. A mulher se agarrou em Nashetania e começou a chorar.


“Nós tentamos fugir! Os Kyoma, nós tentamos fugir antes deles aparecerem...”


“Por favor, tente se acalmar.”


A mulher estava desesperada ao ponto de que não conseguia nem falar direito. Então, Nashetania olhou para o homem.


“Nossa vila estava se preparando para fugir para capital com os soldados. Mas, no caminho, os Kyoma atacaram, e nós tivemos que deixar... nossos companheiros... e até mesmo nosso filho mais novo...”


Enquanto o homem falava, as mãos de Nashetania começavam a tremer novamente. Adlet colocou a mão sobre o ombro dela, apertou-o afetivamente e disse, “Acalme-se. Com a sua força, não tem nada que você deveria temer.” Depois disso, Adlet disparou com seu cavalo. “Nashetania, venha!”


“Oh, certo!”


Adlet segurou com força na sela do cavalo e contemplou a situação. Era exatamente como ela havia previsto. Os Kyoma estavam destruindo as vilas mais próximas e atacando as pessoas com o intuito de atrair os heróis e os emboscar. A mesma estratégia havia tirado a vida de um dos seis da última vez.


Se ele apenas pensasse na vitória, então o plano seria ignorar os ataques. Mas Adlet não iria deixar aquelas pessoas sofrerem. Por que lutar contra o Majin se não para salvar as pessoas?


“Ali!”


Quatorze Kyomas estavam atacando um grupo de carroças. Eles tinham em torno de dez metros de alturas e rabos que pareciam sanguessugas. Um chifre e várias antenas saíam de suas cabeças, e na ponta dessas antenas, olhos muito parecidos com os dos humanos.


Enquanto os Kyoma eram um único tipo de criatura viva, vindo de uma única arvore genealógica, eles podiam mudar suas formas de infindáveis maneiras. Na frente dele estavam aqueles que apreciam sanguessugas, mas também havia Kyomas que apareciam insetos, pássaros e animais gigantes. Na verdade, havia Kyomas que até pareciam humanos e podiam falar.


Mas uma coisa que todos eles tinham era um chifre que crescia de suas cabeças.


Havia vários soldados lutando contra os Kyomas, lado a lado com os fazendeiros e suas famílias. Também havia muitos feridos e pessoas mortas. Vendo aquela cena, Adlet pulou de seu cavalo e avançou em direção aos Demônios.


“Eu vou distrai-los! E você os executa!” Adlet gritava para Nashetania que corria logo atrás dele. Então, ele instantaneamente tirou uma garrafa de ferro de um de seus pequenos bolsos, removeu a tampa e colocou o conteúdo em sua boca.


Alguns dos Kyoma, que observavam Adlet se aproximar, erguiam suas cabeças e cuspiam um líquido em sua direção. Mas ele saltava por cima deles para se esquivar dos ataques. E no momento em que aterrissou, ele acendeu o pavio na frente de seus tentes.


O conteúdo da garrafa era um álcool extremamente inflamável, logo, a faísca do pavio criou um jato de fogo que disparou de sua boca direto no rosto dos Kyomas. Apesar de as chamas serem fracas ao ponto de poderem ser ignoradas se o opoente não tivesse nenhum ferimento, os Kyomas, porém, começaram a gemer em agonia.
Como eu previ. Esse tipo de Kyoma é fraco contra fogo.


A maioria das armas secreta de Adlet não possuía poder extremo. Era por isso que ele usava tantas. E ao atacar os pontos fracos dos Kyoma, elas mostravam seu valor.


“Incrível!” Nashetania gritava.


Então, usando o poder da deusa das Lâminas, Nashetania invocou três espadas do chão, cada uma empalando os Kyomas e os matando. Os outros que sobravam ainda estavam atacando os fazendeiros e nem prestavam atenção nos heróis.


Adlet rapidamente pegou sua próxima arma secreta, uma pequena flauta. Então, ele a aproximou de sua boca e tocou.


“.....?”


Nenhum som saiu dela, porém, todos os Kyomas que estavam atacando os fazendeiros avançaram simultaneamente em direção a Adlet. A flauta produzia um som especial que atraía a atenção do inimigo.


Os Kyomas se preparam para atacar Adlet, mas ele calmamente esquivou de seus ataques. Nashetania, aproveitando aquela chance, perfurou cinco dos Kyomas com suas lâminas, matando-os. Adlet, então, matou os restantes com sua espada.


“Huuu,” Adlet ofegava. Apesar de não estar cansado, ele estava suando. Aquela não havia sido sua primeira batalha, mas combate de verdade ainda era intenso.


“...Haa... haa...” Nashetania estava sem fôlego.


Adlet colocou a mão no ombro dela e disse, “Você foi perfeita. Nem parecia sua primeira batalha.”


“Eu pude lutar mais calma do que eu pensava ser capaz. Então eu devo ser mais útil daqui para frente.”


“Estarei contando com você.”


Nashetania sorriu.


Os dois foram até os soldados para os ajudar um pouco. Os fazendeiros estavam empilhando os corpos de seus companheiros em carroças. Mas vendo ouras pessoas morrerem era doloroso, assim como o rosto das crianças que haviam sido deixadas sozinhas após a morte de seus pais.


“Todos estão aqui? Alguém foi deixado para trás?” Adlet perguntava.


Como se fosse difícil de dizer, alguns dos homens que Adlet estava falando, olhavam para baixo e alguns olhavam rapidamente para Adlet.


“O que aconteceu?”


“A respeito disso...” Os fazendeiros estavam com medo de falar, então, Adlet previu a informação.


“Alguém foi deixado para trás.”


“Uma viaja... uma garota que viajava sozinha.”


Logo que os homens falaram aquilo, Adlet pulou em cima de seu cavalo. E no momento que ele ia disparar em direção da vila com o animal, Nashetania correu até ele e perguntou, “Adlet onde você está indo?”


“Parece que uma garota foi deixada para trás. Logo eu volto. Vou ver se a encontro.”


E no segundo que Adlet tentou partir, Nashetania segurou em seu pulso, parando-o.


“Por favor, espere. Você planeja ir sozinho?”


“Ah certo. Tome conta deste local, Nashetania”


Ao tentar sair mais uma vez, agora, Nashetania segurava no rabo do cavalo.


“Por que você esta me segurando?”


“Não há o que fazer, Adlet. É tarde de mais.”


“...”


“Só há nós dois. Nós não podemos salvar todos, nem mesmo a pessoa que foi deixada para trás.”


Era um pouco surpreendente. Nashetania parecia estar medindo a situação deles de uma maneira calma.


“Claro, você está certa.”


“É triste, mas nós temos que abandonar a garota e continuar nosso caminho.”


Nashetania olhava para o chão com uma expressão triste. Provavelmente até ela queria ir e ajudar a pessoa. Porém, alcançar o Majin o mais rápido possível e o derrotá-lo, esta era a prioridade para ela.


“...Derrotar o Majin. Salvar vidas humanas. Ambos são difíceis.”


“Mesmo que eu ache doloroso, entretanto, nós deveríamos priorizar nos encontrar com os outros Seis Heróis.”


Quando Nashetania soltou o cavalo, Adlet disparou com o animal em direção à vila.


“Desculpe-me, mas você tem que me permitir ir. Eu sou o homem mais forte do mundo afinal de contas!”


“E o que isso deveria significar!?”


Derrotar o Majin e salvar pessoas. Eu posso fazer ambos, pois sou o homem mais forte do mundo. Era o que Adlet dizia em sua mente.     


PARTE 5

Após galopar por trinta minutos, Adlet começou a ver a cerca que envolvia a vila. A jornada havia sido silenciosa. Nenhum humano, Kyoma, ou animal tinha aparecido.


A vila estava morta. Os Kyoma a haviam destruído, por precaução, Adlet sacou sua espada, desceu do cavalo e andou silenciosamente.


Os portões da vila estavam caídos no chão, ao lado, haviaa corpos de Kyomas que pareciam gigantes serpentes. Eles eram grandes, e, de acordo com seus estudos, estes eram muito mais fortes que aqueles que ele havia derrotado momentos atrás.


Adlet se aproximou dos corpos observando a condição deles. Cada um havia sido perfurado por algo de poder extremo. Checando o ferimento no corpo do Kyoma, ele encontrou fragmentos de metal com mais ou menos 2 centímetros de diâmetro dentro do monstro.


“...Um projétil? Não, poderia ser talvez uma arma de fogo?”


Adlet pendeu a cabeça um pouco para o lado. Armas de fogo eram canhões em versões menores que foram criadas trinta anos atrás. Elas estavam se tornando populares de pouco a pouco, mas era difícil de dizer que elas eram armas poderosas. O melhor que elas podiam fazer era matar uma pessoa sem elmo ou um urso selvagem. Mas ele nunca havia ouvido falar de uma arma que podia matar um Kyoma.


Observando mais corpos ao seu arredor, Adlet via que eles tinham ferimentos idênticos, cada um havia sido assassinado com um único tiro na cabeça ou no coração.


Então, ele entendeu. A garota que viajava sozinha, ela não havia ficado para trás. Ela havia lutado contra os Kyomas. Para um guerreiro solitário estar seguindo por esse caminho, mesmo com o despertar do Majin, só poderia significar uma coisa.


Ele continuou a procurar pela garota. Porém, depois de checar por dentro das casas na vila e sem ter nenhum sucesso, ele decidiu caminhar até uma cabana que estava pegando fogo na extremidade da vila.


“...Oh.”


A garota estava lá. Ele ergueu a mão e tentou falar, porém, ele parou o movimento pela metade, sua voz parecia ter sumido. Era como se o corpo inteiro de Adlet houvesse congelado, no momento em que ele a viu.


A garota estava andando próximo a cabana em chamas. Ela parecia ter algo em torno dos 17 anos e estava vestindo um manto já gasto pelo tempo. O cabelo dela era branco, e ela estava acariciando um pequeno filhote de cachorro em suas mãos. Enquanto andava, ela acariciava carinhosamente o pescoço do animal.


Com apenas um olhar, Adlet sabia que era ela que havia derrotado os Kyoma. Além de que, dava para ver o cano da arma de fogo saindo de dentro do manto. Mas, no momento, aquilo não significava nada para Adlet. Apesar de ela estaar apenas segurando um filhote, aquela cena mundana estava fazendo Adlet congelar completamente.


“Encontrei.”


Havia outro cachorro amarrado em uma estaca no chão, próximo a uma árvore. Talvez fosse um dos pais do filhote. A garota colocou o cachorrinho próximo do outro, o primeiro se aconchegou no último, que, por sua vez, lambeu-o. A garota, tirando uma faca de dentro do manto, cortou a coleira que prendia o cachorro à estaca.


“Os Kyoma não vão atacar nada além dos humanos. Então viva aqui e fique em paz.”


Os cachorros saíram correndo em direção à floresta e desapareceram. Enquanto isso, Adlet continuava parado no mesmo local, sem saber o que fazer.


Ela era uma garota bonita. Seu rosto era um pouco infantil e havia um tapa-olho cobrindo seu olho direito. Porém, seu olho esquerdo era tão azul que parecia ser transparente. E mesmo sua figura sendo esguia e bonita, ela tinha um olhar frio.


Seu manto era feito de couro e, embaixo dele, ela também usava roupas de couro grudadas a sua pele. Também havia um lenço preto amarrado em volta de sua cabeça.


Apenas para ela, Adlet entendia que a garota era poderosa. Seus movimentos eram impecáveis e afiados. E, pela aparência, ele podia dizer que ela era uma guerreira bem treinada.


A imagem dela até mesmo fazia parecer que seu coração ia parar se ele se aproximasse mais um pouco.


Contudo, a maneira com que ela havia tratado o filhote o deixava confuso. Ela havia mostrado grande afeição com o animal. Olhando para a floresta, na direção que os dois cachorros haviam seguido, ela tinha uma expressão carinhosa no rosto, porém, uma postura rígida, como se a qualquer momento fosse matar alguma coisa ou alguém. Adlet não conseguia entendê-la, ao mesmo tempo em que era fria, também era carinhosa. Terrivelmente forte, mas ao mesmo tempo fraca. E essa primeira impressão havia intrigado ele.


“Quem é você?”


A garota virou em direção a Adlet, fazendo seu coração acelerar. Sua mente ficou vazia, e ele não conseguia pensar em anda para falar. Ele até mesmo conseguia ouvir as próprias batidas de seu coração.


Não é que ele estava chocado com a beleza dela. Nem emocionalmente afetado, então, provavelmente não era amor. Ele apenas não sabia o que fazer, o que significava que ele não podia fazer nada além de ficar envergonhado.


“Você gosta de cachorros?” Adlet finalmente havia forçado uma pergunta com muita dificuldade.


A garota o olhava com a boca aberta, uma expressão que ele conhecia como nojo.


“Eu gosto de cachorros, mas eu odeio humanos.”


“...Mesmo? Eu gosto de ambos.”


“Quem é você?” Ela disse, tirando a arma debaixo de seu manto e mirando bem no meio dos olhos dele. Adlet esqueceu completamente que estava correndo perigo. “Você também está aqui para me matar?”


Nas costas da mão dela, também havia um brasão das Seis Flores. E com a arma ainda apontada para sua face, Adlet encarou despreocupadamente o rosto da garota, assim como também a marca na mão dela.


“Eu vou atirar, entendeu?”


Ao ouvi-la, Adlet voltou a si mesmo. Rapidamente erguendo ambas as mãos ao ar. Mostrando que ele não tinha nenhum intensão hostil.


“Espera, não atire. Meu nome é Adlet Maia. Eu sou uma das Seis Flores, assim como você.”


Assim que ele mostrou para ela o brasão na parte de trás de sua mão, ela o encarou com suspeita.


“Eu ouvi falar de você. O guerreiro covarde do torneio de Piena. De acordo com os rumores, você é um verdadeiro Zé ninguém.”


As palavras dela o confundiam. “Esp... Espere, quem disse essas coisas? Eu sou o homem mais forte do mundo. Obviamente que não sou algum tipo de covarde, ” Ele disse, tentando acalmar seu coração que disparava em seu peito.


“Você é uma das Seis Flores? Eu não acredito nisso.”


Ele não sentiu nenhuma gentileza ou vaidade vinda da garota que apontava a arma para ele. Tudo o que ele notava era uma pessoa fria e calculista. E aquela atitude estava fazendo a confusão de Adlet passar rapidamente.


“São os rumores que estão errados. Eu uso de tudo para poder vencer, e isso não é covardia.”


“...”


“Eu sou Adlet, o homem mais forte do mundo. Homens covardes não podem ser chamados de mais forte. Então, não aponte sua arma para mim.”


Adlet falou com confiança, mas a garota apenas olhou para ele com indignação e não deu nenhum sinal que irai abaixar a arma.


“... tem mais alguém com você?”


“Nashetania está pelas redondezas. Você provavelmente já ouviu falar dela. Ela é a princesa de Piena, e a Santa das Lâminas.”


“Nashetania... certo. Então aquela garota também foi escolhida, huh?”


A garota ainda não havia abaixado a arma, mesmo Adlet tendo certeza de que ele havia mostrado que não era seu inimigo. Com o olhar frio, ela continuou a encará-lo.


“Diga isso para Nashetania e os outros que você encontrar.”


“...O que?”


“Meu nome é Fremy Speeddraw. Eu sou a Santa da Pólvora.”


A Santa da Pólvora. Não era algo que Adlet estava acostumado a ouvir. Os deuses governavam sobre tudo, e até mesmo sobre o destino. Porém, ele nunca ouvira de um deus da Pólvora, muito menos de tal Santa.


Mas ele estava mais interessado no que ela achava importante falar para os outros.


“Eu não vou viajar com você. Então, permita-me lutar sozinha contra o Majin. E como não quero nada me atrapalhando, não entre em meu caminho.”


“Como assim? O que você quer dizer?”


“Por acaso você é surdo? Estou dizendo que nós seguiremos caminhos separados, não tenho nenhum interesse de fazer parte do seu grupinho.”


Adlet estava chocado. O motivo de haver Seis Heróis não era para eles combinarem suas respectivas habilidades? O um deles que poderia fazer sozinho?


“Diga a eles exatamente o que eu falei. Você deve ser capaz de fazer no mínimo isso, certo?”


Logo após dizer isso, Fremy abaixou a arma, deu as costas e correu para longe. Ela era rápida.


“Ei, espere!” Apesar de ter falado para ela esperar, não tinha nenhuma razão para achar que ela o faria. E, antes que ele percebesse, Fremy havia partido.


“Droga!”


Adlet observou o seu redor. E viu o cavalo que ele havia vindo, tirando uma faca de seu cinto, ele escreveu em rasgos na cela do animal, “Nashetania. Eu encontrei uma das Seis Flores. Eu irei segui-la. Não se preocupe comigo, apenas continue até onde todos nós iremos nos encontrar.”


Após fazer o cavalo correr para fora da vila, Adlet olhou na direção que Fremy havia partido.


“Espere! Para onde você está indo Fremy?!” Ele gritou, porém, foi respondido apenas com o som do silêncio. Adlet seguiu a garota, adentrando a floresta.


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Qualquer pessoa que corresse por uma floresta deixaria rastros. E se alguém segue as folhas esmagadas e galhos quebrados deixados para trás, não era muito difícil de rastrear a pessoa desejada. E assim, Adlet continuou a correr atrás dela, subindo e descendo montanhas.


Mas as pegadas de Fremy sumiam do nada. Parecia que ela estava, ao mesmo tempo, apagando os rastros. Era uma técnica utilizada por alguém acostumado a fugir.


“Qual é a dessa garota,” Adlet murmurava enquanto observava a área com um telescópio. E, finalmente, avistava uma fraca silhueta de um humano se movendo, guardando o telescópio, ele corria na direção da silhueta.


Houve momentos que ele pensava em simplesmente desistir e simplesmente voltar atrás. Além de que, ele estava preocupado com Nashetania. Mesmo assim, Adlet continuou a seguir Fremy. Sua intuição estava gritando para ele a seguir. Por alguma razão, ele sentia que ela não deveria ficar sozinha.


Ele finalmente conseguia enxergar as costas dela. Parecia que a velocidade de Adlet, era superior à dela. E se isso fosse certo, logo ele alcançaria a garota.


E assim foi, depois de perseguir ela por uma hora, ele finalmente a havia alcançado.


“Chega!” Ele falou.


“... Eu não acredito. Você me alcançou.”


Os dois se encararam enquanto recuperavam o folego. Então, Fremy puxou seu rifle e mirou diretamente em Adlet.


“Eu já disse o que é para você falar para eles. Não me siga mais.”


“... O que você quer dizer com isso?”


“Se você continuar me seguindo, eu vou atirar.”


Adlet estava cada vez mais nervoso, e a atitude egoísta dela não ajudava em nada. Mas isso se devia, principalmente, ao fato de que ela realmente parecia pronta para atirar nele.


“Pare de idiotice. O que você tem na cabeça? Você não pode derrotar o Majin sozinha.”


“Você é um incômodo. Saia da minha frente.”


“Certo, você derrotou todos aqueles Kyoma sozinha, mas o Majin é diferente. Nós vamos provavelmente perder se não lutarmos todos os seis juntos. Você é tão idiota que não consegue nem entender isso?”


“Eu posso lutar sozinha. Eu posso vencer sozinha, eu não preciso de ninguém. Se você precisa de provas, eu vou te provar.”


“Ah? E o que você pretende fazer para impressionar Adlet, o homem mais forte do mundo?”


Fremy colocou o dedo no gatilho, e em resposta, Adlet soltou a caixa de ferro no chão e colocou sua mão no cabo da espada. Ele não iria desistir.


Por um curto período de tempo, os dois apenas se encararam. Obviamente, nem mesmo Fremy, tinha intenção de começar uma luta naquele momento. Eles estavam apenas testando um ao outro, vendo quem iria desistir primeiro.


“Pelo menos me diga o motivo. Por que você quer lutar sozinha? Você deveria dizer isso a todos nós.”


“Eu não posso.”


“Por quê?”


Fremy ficou em silêncio.


“Diga algo!”


Ela continuou quieta.


“Eu já vou avisando, eu sou teimoso. Enquanto você não responder eu vou continuar seguindo você, e mesmo depois que você responder, eu vou continuar te seguindo, até que você me diga onde você está indo. O homem mais forte do mundo também é o pior quando se trata de desistir, pois, independentemente da situação, ele não desiste.”


“Você é uma pessoa estranha. No que você poderia ser o mais forte?”


“Por que você está indo sozinha? Por que você não quer encontrar os outros escolhidos? Eu não vou deixar você fazer nada se não me disser.”


Fremy manteve sua expressão, porém, seus dentes estavam pressionados uns aos outros com força, e o dedo que ela tinha no gatilho estava tremendo. Eventualmente, ela olhou para baixo e sussurrou, “Sem nenhuma dúvida, eles vão me matar se eu me encontrar com eles.”


Adlet estava sem palavras. Entretanto, mesmo não conseguindo acreditar no que ela havia falado. Ele podia ver que ela acreditava mesmo naquilo.


“Idiota. Nós não somos o mesmo? Heróis das Seis Flores? Por que nós mataríamos nossa preciosa companheira?”


“Eu não quero ser um dos seus preciosos companheiros.”


“Por quê?”


O olhar de Fremy ficou frio. Completamente diferente da maneira que ela estava o olhando até agora. Era um olhar que dizia que ela estava pronta para atirar.


“Se eu te contar, você também vai tentar me matar.”


Adlet parou por um momento para pensar. Se ele continuasse a insistir, eles iriam acabar matando um ao outro.


“Escolha. Você quer que nos matemos ouvindo motivo, ou sem ouvir o motivo?”


“...”


“Ou você quer que eu fique quieto e deixe você em paz?”


Adlet retornou sua espada à bainha e pegou a caixa de ferro do chão. Parecendo aliviada, Fremy abaixou o rifle.


“Eu vou enfrentar o Majin sozinha. Faça o que quiser, mas, se possível, não quero encontrar você de novo.”


Fremy guardou a arma dentro do manto e deu as costas para Adlet.


Está tudo bem a deixar partir assim? Ele se perguntou e em seguida respondeu. Não, definitivamente, não está nada bem. E com aquele pensamento em mente, Adlet saltou abruptamente caindo sobre Fremy.


Levantando-se antes dela, ele tacou uma bomba de fumaça no chão e surrupiou a mochila dela,


“O que você está fazendo!?”


“Você me disse para fazer o que quiser. Então, permita-me fazer isso.”


“... devolva os meus pertences.”


Fremy mais uma vez pegou o rifle, mas Adlet estava segurando a bolsa dela em seu peitoral. Nela, parecia haver munição, um pouco de comida e até mesmo um mapa.


“Você está brincando, ou é apenas um idiota?”


“Nenhum dos dois na verdade. Eu decidi, eu vou ir com você.”


“...Huh?”


“Agora que está decidido, vamos, rápido.” Ele empurrava levemente a garota que estava sem atitude.


“O que foi decidido? Devolva minhas coisas, agora!!!”


A expressão de Fremy, mudava de confusa para raivosa. Ela colocou o dedo no gatilho.


“... desculpe, mas se você atacar, eu vou acabar fugindo com sua bolsa. Se isso acontecer, seria um problema para você.”


“... quer que eu atire em você?”


“Ou talvez você quer suas coisas de volta e fugir? Você deveria saber pela última tentativa, que você não pode fugir de mim.”


“O que diabos você está pensando?”


Adlet parou por um momento para organizar seus pensamentos. Então, ele disse devagar em um tom calmo.


“Eu não tenho ideia de quais são suas circunstâncias, mas você parece estar numa situação complicada. Ainda mais que está indo para o Território dos Demônios Atormentados, o local onde o Majin e os Kyoma estão esperando, sozinha. E ainda acha que vai ser assassinada se encontrar os outros Seis Heróis. Como diria o ditado, você está entre a cruz e a espada.”


“E?”


“Eu não sou alguém que abandona seu companheiro se eles estão numa difícil situação. O homem mais forte do mundo é generoso. Então, por causa disso, eu decidi ajudar você.”


“... você está brincando? Se está, pare agora!”


“Pare de reclamar e me siga, vamos” Adlet disse, andando na frente dela e ignorando o fato que ela estava pronta para atirar nele.


“... eu não acredito nisso. Quê? Que tipo de... que tipo de homem é esse?”


Apesar de estar agarrando-se nos cabelos de tanta frustração, no final das contas, ela decidiu segui-lo. E sem dizer uma palavra, os dois andaram lado a lado por dentro da floresta.


Apesar do plano ser simplesmente deixar as coisas tomarem seu curso, Adlet se perguntava se fez a escolha certa. Ela havia deixado Nashetania para trás. E ele não sabia se Fremy ia acabar matando ele ou não.


Observado ela de canto de olho. A expressão dela deixava de ser confusa, e agora tinha até sinais de medo. Eu acho que vai tudo ocorrer bem. Tenho certeza que vamos nos dar bem.


“Hey, Fremy,” ele disse olhando para ela. “Apesar de eu não saber da sua situação, e como não existem mais de Seis Heróis, e você é um deles, eu irei te proteger até o final.”


“Cale a boca e ande. Você está me irritando,” Ela disse, virando o rosto para o lado.








PARTE 6


“...Eu...FOME! Eu vou COMER CARNE...e BEBER seu SANGUE! ”


Nashetania estava lutando contra um Kyoma gigante que parecia um lobo. Apesar de imperfeita, o fato de que conseguia se comunicar com palavras, era uma prova de que era um oponente forte. Um pouco de sangue escorria de um pequeno corte na sua bochecha.


O Kyoma tentou esmagá-la com sua enorme perna, mas a garota esquivou e fez surgir uma lâmina onde ela estava antes, empalando o inimigo. O Kyoma agonizava em dor. Nashetania, limpando o sangue em sua bochecha e passando na ponta de seu florete, fazia-o esticar até que a ponta entrasse na boca do monstro.


Contorcendo-se, o Kyoma começou a vomitar enquanto tremia devido à dor excruciante.


“SANGUE DE SANTA, não posso comer. NÃO POSSO COMER...”


Os Kyoma comiam humanos. Porém, o corpo de Santas como Nashetania era como veneno para eles.


“E pensar que eu estava com medo,” Nashetania sussurrou, então, criou várias lâminas no ar e as disparou, deixando o Kyoma em pedaços.


“Estou pegando o jeito de lutar contra eles.”


Girando seu florete, Nashetania olhava ao redor e, sem ter nenhum sinal dos Kyomas ou de Adlet, ela ficava séria. E se lembrava da mensagem que havia achado na sela do cavalo. “‘Nashetania, eu encontrei um dos Seis Heróis, eu vou segui-la. Não se preocupe comigo, apenas continue a jornada até o ponto de encontro.’”


“... O que isso significa?”


“Quando ele disse seguir, ele provavelmente estava perseguindo a garota. Eu me pergunto por que ela estava fugindo. Quem será esse outro herói?”


Enquanto ela resmungava, ela deu outra olhada para o centro da vila, procurando por qualquer item que Adlet possa ter deixado para trás. Mas durante a busca, um homem grande e musculoso vestindo uma armadura negra entrou velozmente na vila sobre um cavalo.


E quando ela finalmente conseguiu ver o rosto dele, Nashetania gritou, “Goldof!”


O homem... Goldof, desmontou do cavalo ao lado de Nashetania e se ajoelhou sobre uma perna. Então, retirou o elmo e olhou para o rosto dela.


“Princesa, desculpe a demora, mas finalmente lhe alcancei.”


Goldof Aurora, dito ser o mais forte homem entre os cavaleiros de Piena, não era muito mais novo que Nashetania. Sua armadura negra era pesada e robusta. Junto a isso, seu elmo era adornado com chifres de carneiro metálicos. Em sua mão direita, ele carregava uma enorme lança com a guarda presa em seu pulso por uma forte corrente. No geral, ele parecia um digno veterano com muitos anos de serviço militar. E apesar de sua expressão ser rígida, ela ainda conseguia enxergar traços de jovialidade em sua face.


“Você veio como esperado. Eu imaginei que seria escolhido,” Nashetania falou para Goldof gentilmente.


“Estou honrado.”


“Estou feliz que a deusa do destino tenha escolhido você. Com você ao meu lado, não tenho nada a temer.” Nashetania falou calma, porém, o tom de sua voz era tenso. Ela não tinha a mesma relação despreocupada com Goldof como ela tinha com Adlet.


“Por favor, permita-me usar esse corpo para lhe proteger, minha princesa. Sem nenhuma dúvida, é minha vontade derrotar o Majin e ver você retornar para o reino, sã e salva.”


Aquela palavra a fez erguer uma sobrancelha.


“... Goldof”


“Sim.”


“Daqui em diante, nós somos iguais. Não só você vai estar me protegendo, como eu também vou te proteger.”


“Mas, princesa, você é especial. Nada deve acontecer com você, eu me assegurarei disso!”


“... sim, certo, eu sei,” Nashetania falou, balançando a cabeça dela levemente. “Mas, mais importante que isso, há um problema. Outro herói das Seis Flores que estava viajando comigo seguiu por outro caminho.” Nashetania mostrou para Goldof a sela do cavalo.”


Ele leu a mensagem e pendeu o pescoço para o lado.
“Eu realmente não entendo o que isso significa.”


“Eu também não.”


“De qualquer forma, quem era seu companheiro?”


“Adlet Maia. Você provavelmente ouviu falar dele, huh?”


Quando ele ouviu aquele nome, a expressão de Goldof mudou. Provavelmente ele havia ouvido falar tudo sobre o torneio.


“Não pense mal dele. Ele é bastante confiável.”


“Tirando o fato que ele deixou você, a Princesa, e seguiu por outro caminho?”


Goldof olhou para ela pensativamente, como se ele não confiasse em Adlet.


“É por isso que nós vamos procurar por ele. Eu me pergunto qual direção que ele seguiu.”


Goldof parecia ponderar por um momento enquanto olhava para a mensagem na sela do cavalo. Mas ele não estava pensando sobre qual direção Adlet poderia ter tomado. Mas sim, em algo completamente diferente.


“Adlet provavelmente está indo em direção ao Território dos Demônios Atormentados, se nós formos para lá também, eventualmente, vamos nos encontrar com ele.”


“Essa provavelmente é a única opção. Mas eu ainda estou preocupada com ele.”


Sem responder, Goldof guiou o cavalo no qual ele veio até Nashetania. Ela recusou, jogou a sela em cima do cavalo de Adlet e montou nele.


Enquanto eles deixavam a vila cada vez mais para trás no topo dos cavalos, Nashetania disse, “Goldof, Adlet é uma boa pessoa. Claro, ele é bem diferente, e eu acho que no começo você também vai ficar assustado com ele. Mas se vocês conversarem, eu acredito que, depois de algum tempo, vocês irão se tornar amigos.”


“... Claro...”


“O mundo é grande, e eu estou feliz de poder viajar por ele. Eu nunca teria encontrado alguém tão misterioso como Adlet se eu tivesse ficado no palácio.”


“... entendo.”


“E mais uma coisa. Pregar peças nas pessoas é extremamente divertido.” Nashetania mostrou a língua enquanto sorria.


Entretanto, Goldof tinha uma expressão complexa em sua face. E, rapidamente, ele olhou para o chão, assim, a princesa não veria seu rosto.


“Com todo o respeito, Princesa...”


“O que foi?”


“Minha Princesa, a respeito de... Adlet.” Goldof começou a falar algo, mas então, hesitou e ficou em silêncio por um longo tempo.


“Qual o problema? Você está sendo evasivo, e eu sinto que você mudou nesse curto período de tempo que nós estivemos separados.”


“Isso pode ser verdade. Eu peço seu perdão, Princesa. Por favor, esqueça o que eu disse.”


Nashetania pendeu a cabeça para o lado. Então, bateu as mãos juntas e gritou, “É mesmo. Como ficou a caçada ao Assassino das Seis Flores? Você descobriu alguma pista?”


Goldof, balançando a cabeça para os lados, disse.


“... estou envergonhado em admitir que minha jornada não terminou com a morte deles. Entretanto, eu sei quem é o assassino, como ele se parece e suas habilidades.”


“Você descobriu pistas no final das contas, você tem certeza de tais informações?”


“Sim. A informação veio de alguém que lutou diretamente com o assassino. E eles não pareciam estar mentindo.”


“Que tipo de pessoa é o Assassino das Seis flores?”


Goldof falou com uma voz grave e forte. “O Assassino das Seis Flores é a Santa da Pólvora. Ela é uma garota de cabelo branco que usa armas de fogo. E o nome dela é Fremy.”

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