Rokka: Volume 01, Capítulo 03

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Capítulo 3 – A armadilha e a fuga

Já tinha se passado uma hora desde que os sete heróis se reuniram no templo. Na maioria daquele tempo, Adlet esteve correndo pela floresta, e se o mapa mental que ele tinha da região estava correto, então, ele estava quase na beirada da Barreira Ilusionária do Nevoeiro.


“Mas que barreira chata. Tudo o que eu sei, é que vou ter um grande sorriso no rosto se nós conseguirmos sair dela rapidamente, meow.”


Hans, que Adlet tinha encontrado algum tempo atrás, estava correndo junto a ele. Apesar de ele não estar em posição de criticar os outros, Adlet pensou que Hans era extremamente suspeito e, devido a isso, não baixava sua guarda perto dele.


Ao mesmo tempo em que corria, Adlet deixava marcas nas árvores ao redor deles. Mas, após avançar dentro da floresta, ele encontrava as árvores que tinha marcado logo a sua frente. Eventualmente, eles descobriram que o senso de direção dos dois tinha sido completamente invertido.


“Então a barreira foi ativada afinal de contas.”


“Assim como pensamos.” Hans disse.


Ambos tentaram de tudo para sair da barreira, andar em linha reta, cada um ir para a direção contrária do outro, amarrar um barbante no início, entre outras coisas. E, a cada tentativa, mais frustrados eles ficavam por não chegar a nenhum resultado.


Porém, eles perceberam que sua capacidade sensorial, ou seja, o senso de direção só ficava confuso ao tentar sair da barreira. Enquanto eles estivessem dentro dla, eles não se perdiam.


“Parece que nossa única opção é desativar a barreira.” Adlet suspirou.


Os sete heróis decidiram que o foco era remover a barreira, e que o impostor no meio deles seria algo para resolver depois. Então, enquanto Adlet e Hans confirmavam se realmente não tinha meios de sair da barreira, os outros cinco ficaram no templo, procurando uma maneira de desativá-la.


“Vamos correr para o templo.” Hans sugeriu. Adlet acenou com a cabeça, e eles saíram correndo. “Meow, por acaso, você é o cidadão que invadiu o torneio de Piena?”


“Isso mesmo, você ouviu falar?”


“Os rumores dizem que você é um guerreiro covarde, que sequestrou a neta de Batwal. Isso é verdade?”


“Não dê ouvido a todos os rumores.” Adlet não havia feito ninguém de refém. E Hans não tinha nenhum direito de chamá-lo de guerreiro covarde.


“Falando nisso, Hans, eu nunca ouvi falar de você antes. Onde você esteve e o que andou fazendo ultimamente?”


Fora Hans, todos os heróis, eram pessoas famosas. Claro que Nashetania era, mas Mora, Chamo e Goldof, tinham feito suas próprias reputações, até mesmo Fremy, como a Assassina das Seis Flores, tinha uma, era negativa, mas, ainda assim, uma reputação. Apenas Hans era completamente desconhecido.


“Bom se você soubesse sobre mim, isto seria um problema.”


“O que você quer dizer com isso?”


Sem responder, Hans apenas deu um grande sorriso.


Quando eles retornaram para o templo, os dois encontraram os outros cinco, parados esperando. Nashetania, Mora e Chamo estavam reunidas envolta do altar, e, um pouco distante deles, estavam Goldof e Fremy.


Ambos os pulsos de Fremy estavam presos por correntes, as quais Goldof estavam segurando. Ele também não tirava os olhos dela, observando cada mínimo movimento. E a mochila dela estava sendo guardada por Mora, tornando impossível Fremy resistir.


Naturalmente, Fremy foi a primeira suspeita. Chamo, insistiu em matá-la logo, mas, depois dos seis debaterem, eles concordaram em, por hora, apenas prender ela. A garota olhava sem nenhuma expressão para o altar. Uma expressão de alguém que havia desistido de tudo.


“Então, descobriu algo Mora?” Hans perguntou.  Mora parecia ser a mais sábia a respeito das escritas sagradas que usava os poderes dos santos, amplificando-os na barreira.


“Sim, eu sei alguma coisa, mas, antes disso, você poderia me dizer um pouco sobre você? Eu ainda não liguei seu rosto ao nome.”


“Meowmeow, sua memória é horrível.” Hans riu.


“Junto com as informações, diga um pouco do seu passado e o que você andou fazendo até nós nos juntarmos.”


“Por quê?”


“Talvez eu vá precisar da informação, para determinar quem é o impostor... na sétima pessoa.”


Adlet e os outros se juntaram ao redor do altar, e Goldof empurrou Fremy na direção deles, forçando-a a se juntar ao círculo.


“Então, quem vai começar?” Mora perguntou.


Antes que todos notassem, ela havia assumido o papel de líder, e todos, naturalmente, aceitaram aquilo. Ela era sábia e forte.


“Eu começo. Meu nome é Adlet Maia, o homem mais forte do mundo.”


Adlet foi o primeiro a se apresentar. Ele falou um pouco de sua história, seus encontros com Fremy e Nashetania, e o que havia acontecido quando ele alcançou o templo. É claro que ele repetiu várias e várias vezes, que ele era o homem mais forte do mundo.


“... Hum, Adlet, huh? Uma pessoa um tanto quanto peculiar foi escolhida.” Mora disse dando de ombros assim que Adlet terminou sua apresentação.


“O mais forte do mundo? Meohahahaha, você é um idiota. Este cara é um completo idiota.” Hans ria sem parar.


Adlet, porém, ignorava-o. “Quando a barreira foi ativada, eu era o mais próximo. Eu deveria falar o que aconteceu?”


“Não, eu vou questionar você especificamente sobre isso mais tarde. Quem é o próximo?”


Nashetania, que estava ao lado de Adlet, levantou sua mão.


“Se não for nenhum incômodo, eu quero ouvir a história da garota coelho, se possível, apenas nós dois, em um quarto.”


“Hans ou seja lá quem você for, seria bom você saber qual o seu lugar. Esta é a princesa do Reino de Piena. Ela não seria alguém, que simplesmente escutaria aos seus pedidos.” Goldof falou rispidamente.


“Meow? Ela é uma princesa, mesmo sendo uma garota coelho?! Agora meu interesse aumentou mais ainda.”


“Posso falar agora?” Nashetania falou, claramente irritada.


A história dela, após ter vindo ao templo, não era muito diferente da de Adlet. As únicas coisas que ele ficou sabendo de novo foram o encontro com Goldof logo que ele saiu atrás de Fremy e como eles haviam conversado sobre a barreira no forte junto ao soldado de primeira classe Rowen depois que Adlet e Fremy já haviam partido do local.


Goldof aproveitou a deixa e se apresentou. Ele falou a respeito da perseguição ao Assassino das Seis Flores, e como ele estava sozinho na Nação do rio Sagrado no momento em que ele recebeu o Brasão das Seis Flores. Ele também comentou sobre o momento que reencontrou Nashetania. Mas, claro, Adlet já sabia tudo o que ele havia dito dessa parte para frente.


A próxima a falar foi Mora. “Meu nome é Mora Chester. Eu sou a Santa das Montanhas e a atual líder de todos os templos no mundo.”


“Todos os templos no mundo?” Adlet interrompeu. Ele já ouvira o nome dela antes, mas ele não tinha muitas informações a respeito.


Nashetania explicou para ele. “Ela manda na organização que supervisiona todas as Santas.”


“Bom, não é como se eu tivesse fazendo um trabalho muito importante. Eu apenas cuido das Santas para que elas não abusem de seus poderes. De qualquer forma, eu tenho que memorizar todas as 78 santas, assim como seus nomes, rostos e poderes.”


“Aquelas como Chamo, quando adquirem o poder de uma Santa, devem ir para onde Mora está e se apresentar.” Disse Chamo.


“Mas eu não sabia que havia uma com o nome de Fremy. A Santa da Pólvora, huh? Eu nunca ouvi falar antes. Ela é provavelmente uma Santa recém-criada.”


“Não seria impossível uma nova santa surgir?” Adlet perguntou.


“Não é tão impossível assim, apesar de não acontecer já há mais ou menos 100 anos. Agora, voltando ao ponto.” Mora continuou. “Cerca de dez anos atrás, eu assumi o manto de líder de todos os templos, substituindo a antiga líder Leura-sama, a Santa do Sol.”


Leura. Adlet havia ouvido aquele nome várias vezes em sua jornada. A Santa que podia controlar a luz e o calor do sol, e também tinha o poder de incinerar castelos. Mesmo ela tendo ficado velha, ele não sabia se a habilidade dela de controlar o sol havia diminuído, mas ele ouvira que o corpo dela havia se deteriorado ao ponto de precisar de uma cadeira de rodas para se locomover. E, fora tudo isso, aproximadamente um mês atrás, ela havia desaparecido completamente do mapa.


“Por dez anos, eu creio que executei minha função sem cometer nenhum erro grave. Impedir Chamo de ser violenta com os outros é a minha única dificuldade.”


“Eu acho que Mora-san tem feito um ótimo trabalho. Até meu pai disse que, enquanto Mora-san existir, as Santas não fariam nenhum ato de maldade.”


“O Rei de Piena disse isso? Estou honrada.” Mora disse com um sorriso pequeno para Nashetania.  


“Eu estava fazendo meu trabalho na cidade dos picos vermelhos quando o Majin acordou. Eu vim logo em direção ao território dos Demônios Atormentados e cheguei no ponto de encontro dois dias atrás. Eu ouvi do Soldado de Primeira Classe Rowen no forte sobre a Barreira Ilusionária do Nevoeiro e aquele foi o mesmo dia que decidimos nosso plano. Eu estive escondida, esperando sozinha, mas ontem Hans veio em minha direção. Ele já tinha visto as explosões que ocorreram na direção do templo e estava indo ver o que estava acontecendo.”


“Você não sabia sobre a Barreira Ilusionária do Nevoeiro dois dias atrás? Não é seu trabalho gerenciar os Santos?” Adlet perguntou.


“Eu sabia da existência, mas não tinha ouvido sobre os detalhes. Eu ouvi como ativar a barreira e a localização do templo há dois dias, quando Rowen me contou. Então, imagino que ele falou bastante com Uspa, a Santa do Nevoeiro, ou Adorea, a Santa das Ilusões, antes.”


Os nomes que ela falou eram, provavelmente, o nome das Santas que montaram a barreira. Ela provavelmente as conhecia. É melhor eu lembrar disso para mais tarde


“Bem, a próxima é Chamo.” Mora disse, e Chamo acenou com a cabeça.


“Humm, bom, Chamo é Chamo, A Santa dos Pântanos com 14 anos de idade. Chamo virou uma Santa com sete anos. Chamo é um pouco forte demais, então, quando Chamo usa os poderes que tem, Mora-obachan sempre fica brava.”


“Algum tempo atrás, Chamo participou do torneio na Nação das Frutas Amarelas. Na primeira rodada, Chamo matou o oponente sem querer. Depois disso, ninguém que estava inscrito no torneio apareceu para lutar.”


Até mesmo Adlet conhecia aquela história. Contos falando sobre seu poder e força assustadora eram muitos.


“Até Chamo chegar aqui, nada diferente aconteceu na vida deles... Quando o Majin acordou, Chamo estava na casa deles. A mãe e o pai de Chamo se preparam para a jornada de fuga e, depois de receber um mapa, Chamo veio em direção ao território dos Demônios Atormentados. Na verdade, Chamo deveria ter sido a primeira a chegar, mas Chamo se perdeu no caminho e acabou se atrasando. Então, quando Cahmo estava andando por aí e matando Kyomas, ela escutou uma confusão e seguiu na direção. Do nada, um nevoeiro começou a aparecer, e quando cheguei ao templo, Fremy estava lá, ambos os fatos surpreenderam Chamo. E essa é toda a história de Chamo.”


Após a explicação da garotinha, Goldof ajudou na explicação para Mora e Hans, de como Chamo e Fremy lutaram no passado.


“Meow, ela é a assassina das Seis Flores? Eu não acredito.”


“Ela mesma confessou ser a assassina. Eu não acho que seja um engano.” Goldof respondeu.  E apesar de parecer que ele estava pensando em algo, Hans resolveu ficar quieto.


“Vamos ouvir a historia de Fremy por último. O próximo é Hans.” Mora disse.


“Sim.”


Como Mora sugeriu, Hans começou a falar. Melhor eu prestar atenção, Adlet Pensou. Mesmo que não fosse certo apenas julgá-lo pela sua aparência, jeito de falar e maneiras, ele ainda era o mais suspeito de todos.


“Meow, eu sou Hans Humpty. Eu nasci em... bom, isso é indiferente. E sobre meu trabalho, eu sou um assassino.”


“Assassino?” Nashetania tombou um pouco o pescoço para o lado.


“Princesa, assassinos são pessoas contratadas para matar por dinheiro. Indivíduos que ganham a vida negociando a morte de terceiros.” Nashetania estava chocada pela explicação de Goldof. Era como se ela não soubesse que aquele tipo de profissão existia.


“.... Alguém assim foi escolhido como uma das Seis Flores?”


“Meow? É tão ruim assim um herói também ser um assassino?” Hans disse, ridicularizando Nashetania por ser ignorante a respeito de como o mundo funcionava. “A história das Seis Flores é irrelevante. Aqueles que podem derrotar o Majin, independente de serem assassinos ou não, são os escolhidos. Ou estou errado?”


“Mas... mas...”


“Princesa-san, quanto mais você pensar sobre, mais você vai notar que não pode corrigir o mundo. Para ser sincero, muitas pessoas que contrataram meu serviço são nobres da sua nação.”


“Mentira!!”


“Bom, assassinatos e afins não são algo para se preocupar agora. Posso continuar com minha história, meow?”


Adlet acenou com a cabeça. Apesar de aquilo ter irritado Nashetania, os detalhes do trabalho de um assassino seriam histórias para outro dia.


“Quando eu fui escolhido com um dos Heróis das Seis Flores, eu estava relativamente perto do território dos Demônios Atormentados. Primeiramente, eu encontrei o rei desta nação e negociei quanto eu receberia por derrotar O Majin. O rei foi bem generoso e eu recebi boa parte do pagamento adiantado. Então, depois disso, eu escondi o dinheiro e vim para o território dos Demônios Atormentados, onde eu encontrei Mora.”


“Negociações de dinheiro? Antes da Luta?”


“Meow? Como segue a regra, eu não mato se não tem dinheiro envolvido. Não vão dizer que estão apenas trabalhando também?”


Adlet nunca havia pensado em fazer dinheiro derrotando o Majin.


“Você não sabia da barreira?” Goldof perguntou.


“Meow? Eu acho que o rei insistiu para eu ir até o forte ou algo do tipo, meow. Mas eu achei que não tinha nada a ver comigo, então, ignorei. Mora que me falou sobre a barreira.”


Algo a respeito disso não está certo. Adlet pensou. A Barreira Ilusionária do Nevoeiro não deveria ser uma informação importante? Adlet não conseguia entender a razão para ele encontrar com Mora sem ter escutado a informação, mas, por hora, ele resolveu não dizer nada e apenas escutar a história do assassino.


“Depois disso, não tem muito que dizer. Eu vi a explosão acontecendo e vim para o templo, meow.”


Foi nesse momento que Chamo fez a pergunta que ela tinha em mente por toda a história. “Ei, por que você fala desse jeito?”


Após ela perguntar, Hans coçou seu rosto como um gato faria com a pata. Então, virou um mortal de costas no ar. Quando ele aterrissou, ele respondeu, “Meu estilo de luta é chamado de Lâmina do Gato. É um estilo de luta com espada, no qual você imita os movimentos de um gato. Gatos são algo como, meus mestres, meow. Então, para expressar meu respeito por eles, eu até mesmo falo como eles.”


“As Seis flores desse tempo, são um bando de pessoas estranhas.” Mora murmurou.


“Realmente”. Adlet concordou veemente.


“Você não deveria falar nada. Você é o idiota mais forte idiota do mundo.” Hans disse, gargalhando.


Assim que Hans terminou sua história, o olhar de todos se dirigiu a uma pessoa. Presa por Goldof, Fremy escutou a história dos outros sem dizer uma única palavra.


“... E agora, finalmente, é sua vez, Fremy.” Mora disse.


“Se você não quer falar, é uma pena. Você deveria considerar o fato de que hesitar apenas vai piorar a sua situação.”


“O que pode ser pior do que isso?” Fremy disse com revolta, então, ficou em silêncio de novo. Mas, após alguns segundos, devagar, ela começou a falar.


“Eu sou uma criança nascida entre uma humana e um Kyoma.”


Todos ficaram chocados, menos Goldof e Chamo.


“Goldof. Tire a faixa em volta da cabeça e o tapa olho dela.”


Fazendo como mandado, Goldof expôs a cabeça da garota. O olho direito dela era rosa, e havia um pequeno traço de um cifre em sua testa, a prova de que ela era parte Kyoma. Havia sido quebrado na base, deixando apenas a cicatriz.


“Mas... você não tem um chifre. Por acaso, você mesma o quebrou?” Chamo perguntou.

Em vez de responder, Fremy continuou contando a historia.

“Cerca de vinte anos atrás, um Kyoma deixou o território dos Demônios Atormentados e se escondeu no mundo humano. Eles estavam preparando a ressurreição do Majin, e o soldado que eles criaram para lutar contra os heróis das Seis Flores, fui eu. Meu pai era humano. Mas eu não lembro do seu rosto, minha mãe o matou assim que eu nasci. Eu sou fruto de uma mãe Kyoma e criada pelos Kyomas. Minha mãe e os outros sequestraram muitos humanos e os fizeram criar uma deusa da pólvora para adorá-la. Então, eu recebi os poderes da Santa da Pólvora.”

“Depois disso...”

“Seguindo as expectativas que minha mãe tinha em mim, eu me tornei forte. Cada comando que minha mãe dava, eu obedecia, e comecei a matar humanos que eram considerados fortes, para que, no momento em que o Majin ressuscitasse, apenas os fracos restassem. Eu não tinha dúvidas. Mesmo sendo metade humana, eu me considerava uma Kyoma. Nós protegeríamos o Majin e ele nos guiaria para um futuro incrível.”

“Então, por que você está aqui? Por que você decidiu lutar contra o Majin?” Mora perguntou. O que era de fato o ponto mais importante da história dela.

“... Mesmo se eu disser, vocês provavelmente não vão acreditar em mim.”

“Porém, se você não falar, nós não vamos saber se devemos acreditar ou não.”

Mora e Fremy se entreolharam. Então, Chamo falou: “Tudo bem você não falar, já que se nós decidirmos matar você, não tem nenhuma importância, certo? Nós decidimos que a Fremy é a impostora, não decidimos?”

“Quieta, Chamo, nada foi decidido ainda.”

Chamo olhou para Adlet com uma expressão inocente. Mas, no centro de seus olhos, uma leve ira começava a se formar.

“Como é seu nome mesmo? Você é um saco. Você não é a mãe da Chamo pra mandar nela, certo?!”

“Óbvio que eu não sou!”

“Então, aprenda isso. Não discuta com Chamo.”

“Chamo! Agora é o momento de ouvir a historia de Fremy.” Mora falou irritada, e Chamo ficou quieta. Adlet estava feliz que Mora estava lá. Se ela não estivesse, ele não tinha ideia do que teria acontecido.

“Fremy-san, por favor, fale. Por que você está lutando contra o Majin?” Nashetania perguntou, mas Fremy apenas olhou para todos com um olhar frio.

“... Chamo falou que está tudo bem em eu não falar. E eu concordo. Eu não quero falar.” Após dizer isso, Fremy não falou mais nada. E mesmo quando Adlet pediu para ela falar, ela nem o olhava no rosto.

Depois de algum tempo, Mora mudou o tópico, devido a sua impaciência.

“Certo, agora que todos nós temos uma ideia de quem cada um é, mudemos para um tópico mais importante, como nós podemos sair daqui?”

Adlet estava para dizer que a conversa não tinha acabado, mas se segurou. A sugestão de Mora era mais construtiva.

“Como eu já falei para Goldof e Fremy antes; Chamo, Nashetania e eu tentamos pesquisar a respeito da forma da barreira.”

Adlet e Hans acenaram com a cabeça. Enquanto eles estavam tentando procurar uma forma de sair diretamente da barreira, Mora e os outros estavam procurando uma maneira de desativá-la.

“Primeiro, vou falar o que eu descobri. Como está escrito nas palavras sagradas cravadas no altar, não tem como desativar a barreira. E, mesmo se existir, não está escrito, assim, consequentemente, não há como nós sabermos.”

“... Meoow, isso é horrível.” Hans murmurou.

“Isto significa que temos apenas duas opções. A primeira seria a pessoa que ativou a barreira ser capaz de desativá-la. A segunda é que, se a mesma pessoa que ativou morrer, também deve dar certo.”

“Você tem certeza?”

“Estou praticamente certa disso. Em primeiro lugar, não existem teorias que explicam a situação em que a pessoa que ativou não seria capaz de desativar. Parece improvável que a barreira vai continuar se a pessoa que a ativou morrer.”

“Entendo...” Adlet se lembrou do momento em que a barreira foi ativada. O momento que ele abriu a porta e os soldados de armaduras apareceram e o atacaram. A risada aguda do Kyoma atrás dele. Então, entre esses momentos, alguém ativou a barreira e fugiu.

Quem no mundo eram eles e como o fizeram?

“A pessoa que ativou a barreira ainda está dentro dela?” Adlet perguntou para Mora, na esperança de encontrar algum tipo de raciocínio ou conexão.

“Sim, está. Independente se for humano ou Kyoma, ninguém conseguiria sair dessa barreira.”

“A barreira poderia ter sido ativada de fora do templo?” 

“Isso é impossível.”

“E só humanos poderiam ativar a barreira?” 

Mora pensou por um segundo e respondeu “Sim, apenas humanos poderiam. Kyomas não seriam capazes de usar uma barreira feita pelas Santas.”

“Em outras palavras... tem um humano que se aliou ao Majin.” Adlet disse, mas Mora balançou a cabeça de um lado para outro.

“Não teria motivo de um humano fazer isso. Se o Majin reviver, irá dizimar toda a humanidade, e, por causa disso, não existiria ninguém capaz de se aliar ao inimigo das Seis Flores.”

“Bom, pelos eventos que se sucederam, parece que tal coisa não seria impossível. E essa pessoa, ainda por cima, parece estar entre nós.” Adlet falou.

“Então, Fremy é a inimiga. Por que vocês não entendem isso?” Chamo falou irritada.

“Isso ainda não pode ser provado. Eu acredito que Fremy não é a traidora.”

“Mas parece impossível que qualquer um de nós seja aliado do Majin, a não ser Fremy.” Mora falou pensativa.

“Sim, existe.” Adlet falou convicto. “Os Kyoma sequestraram várias pessoas e estão os ameaçando; e, com certeza, sob tais circunstâncias, com medo, as pessoas fariam o que fossem mandadas. Então, com certeza, existem humanos que obedecem Kyomas.”

“... Eu entendo, Adlet. Você quer dizer para a gente não baixar a guarda.” Mora disse.

“... Já faz um tempo.” Fremy começou a falar do nada. Chocados, todos olharam para ela. “Mora está falando sobre tudo, mas seria verdade o que ela diz?”

Mora olhou friamente para Fremy.

“Eu não digo coisas como especulações. Tudo o que eu falei são fatos.”

“Não foi isso que eu quis dizer. Temo falar que não há nenhuma prova do que você disse, se é verdade ou não.”

Mora ficou quieta.

“Eu não sou a impostora… a sétima não sou eu. Tem mais alguém no meio de vocês seis. Ao meu ver, Mora, você não é nada mais que uma suspeita. Você disse que se a pessoa que ativou a barreira morrer, então, ela será desativada. Você também mencionou como um Kyoma não pode ativar a barreira, mas não há garantia de que nenhuma dessas informações seja verdade.”

Mora hesitou e Adlet sentiu como se tivesse sido atacado inesperadamente. Mora era alguém que todos conheciam, nem que fosse apenas pelo nome, então, ele não havia desconfiado dela. Mas Fremy estava certa, não havia nenhuma garantia de o que ela falava era verdade.

“... Fremy-san, acredito eu que Mora-san está certa no que disse.” Nashetania falou.

“Sim, Chamo também pensa assim.”

“Certo. Mas não esqueçam que um de nós é o inimigo e está mentindo.”

“Fremy-san, você é a pessoa mais suspeita entre nós.” Nashetania disse.

“Eu não sou a sétima. Isso é o que eu posso deduzir por hora.”

“Bom, então, quem é o sétimo?” 

Fremy não disse nada.

Devagar, o medo de que o impostor estivesse entre eles foi entrando em seus corpo. Um deles era o inimigo e estava mentindo. Mesmo que alguém fizesse um comentário trivial, essa pessoa seria suspeita. Adlet teria que tomar cuidado para não dizer nada e ser tachado como suspeito. Assim como também ter cuidado para não ser enganado, colocar alguém sob suspeita sem motivos, ou confundir mentiras com verdades.

Chamo entrou na conversa. “Hey, Chamo já está achando isso um saco. Posso matar Fremy agora?”

“Pare com isso, Chamo.”

Apesar de ser uma criança, Chamo deixava Adlet bravo.

“Vocês não param de falar no impostor, se não é Fremy, a Assassina das Seis Flores, então, quem seria?  De qualquer forma, todos sabemos que foi ela que ativou a barreira. Então, gigante, você pode quebrar o pescoço dela pra mim?” 

Goldof balançou a cabeça. “Chamo-san. Fremy estava ao lado da princesa quando a barreira foi ativada. Mesmo se ela fosse a impostora, outro alguém ativou.”

“Certo. Vamos tirar a informação dela torturando-a. Mas Chamo vai ser a primeira, Chamo vai se esforçar bastante, não se preocupem.”

Chamo, então, tocou a Setaria na ponta dos lábios, e, ao mesmo tempo, um arrepio atravessou a espinha de Adlet. Ele não sabia para que servia aquele pedaço de grama, mas ele sentia que era para algo incrivelmente terrível.

“Espere! Pare!” Adlet gritou pronto para sacar a espada da bainha.

“Tor... tortura? Você não pode fazer isso. Goldof, pare Chamo-san.” Nashetania comandou, mas Goldof parecia não querer obedecer.

“Princesa, infelizmente, isso é necessário para a sua proteção. Adlet, leve a princesa para fora.”

“Goldof! O que você está dizendo?!” Nashetania gritou segurando a própria cabeça. Enquanto isso, Chamo se aproximava lentamente de Fremy.

 Mora hesitava, mas sua relutância não parecia ser para parar aquela situação. Ela parecia preocupada com Nashetania. Entretanto, no momento que Adlet achou que lutar seria a única saída, uma voz inesperada se fez ouvir. 

“Parem agora. Eu não acho que Fremy seja a sétima.” Era Hans.

Assustada com a atitude inesperada do homem, Chamo tirou a Setaria de sua boca. “Como assim, Gato-san?”

“Ou talvez, que ela seja a mais suspeita.”

“Esse é um argumento fraco.”

“Meow, então, deixe-me ser mais preciso. Supomos que Fremy seja a sétima, então, porque Adlet ainda está vivo?” Hans perguntou, mas Chamo parecia estar irredutível. “Se Fremy for a sétima, é estranho Adlet não ter sido morto. Ela também poderia ter matado a princesa várias vezes enquanto viajavam juntas.”

“Isto...”

“A reunião de todos os sete seria o pior cenário para Fremy. Sendo ela a assassina das Seis Flores, ela não admitiria tal alcunha. Não seria óbvio que ela seria torturada e assassinada?”

“Você está certo disso?”

“Do ponto de vista dela, Fremy teria que evitar a todos os custos a reunião dos sete. Mesmo assim, como Adlet disse, ela veio junto sem nenhuma obrigação. Se ela for a Sétima, o que diabos ela quer fazer?”

“... Faz sentido. Se Fremy é o inimigo, então, ela tomou muitas atitudes sem sentido.” Mora disse.

“Realmente...” Nashetania concordou.

Adlet suspirou em alívio, agradecido pela intervenção de Hans.

“Mas o fato que Fremy é a mais suspeita ainda não mudou.”

“Bom, isso é verdade, mas, se ela planejou nos enganar, você não acha que ela teria sido mais engenhosa?”

Chamo olhou tristemente para a Setaria em sua mão. “Então Chamo não pode matá-la?”

“Meow, por hora, não.”

“Esta é a primeira vez que um monte de pessoas não obedecem Chamo.” Se sentindo deprimida, Chamo ficou quieta. Parecia que a tortura havida sido colocada de lado, por hora. 

“... Então, o que vamos fazer agora?” Mora perguntou, um tanto quanto estressada pela situação. Eles já estavam falando por um bom tempo, mas não haviam feito nenhum progresso.

Inesperadamente, Nashetania levou sua mão à testa e caiu sentada no chão.

“Princesa!” Goldof soltou Fremy e correu até Nashetania, no mesmo segundo, Hans segurou as correntes da Assassina das Seis Flores.

“Estou bem... só estou um pouco tonta.” Nashetania falou, tentando se levantar.

“Fique um pouco sentada. Não se esforce muito.” Adlet disse.

Com a mão pressionada na testa, Nashetania sentou sobre os joelhos. Goldof ficou ao lado dela com um olhar preocupado. Ela estava pálida como se estivesse extremamente cansada. Até mesmo na primeira luta dela contra os Kyomas, junto de Adlet, ela não parecia tão frágil.

Ela era uma incrível guerreira, mas foi criada com todos os confortos imagináveis, fazendo-a emocionalmente fraca. O fato que um deles era um impostor era algo que ela não estava conseguindo suportar.

“Bom, não temos escolha. Vamos descansar um pouco.” Mora disse, dando de ombros. Apesar de aquela não ser uma situação para se descansar, todos relaxaram um pouco.

Nashetania se aproximou de Goldof, então, Adlet decidiu se levantar; vendo isso, Mora acenou para ele segui-la. Ele foi até ela, e, juntos, eles foram até um dos cantos isolados do templo.

“Qual o problema, Mora?”

“Nada em particular. Eu só notei que você é o mais centrado do grupo.”

“Mas é obvio. Não importa no que, eu sou o melhor no mundo.”

“Se você é o mais centrado do grupo, então, estou preocupado com o futuro.” Mora suspirou. “Por que você acha que Fremy não é a sétima?”

“Eu não tenho provas de nada. Apenas a impressão que eu tive quando viajei ao lado dela.”

“E não foi isso, no máximo,  um dia e meio?”

“Independente, foi a impressão que eu tive.”

“Esse não é um bom argumento.”

“Eu decidi que iria confiar nela, desde o primeiro momento que a encontrei.”

Mora o olhou com um olhar confuso e irritado. “...Você é muito jovem. E tal jovialidade ainda não está preparada para os perigos da vida.”

“Obrigado pelo conselho, mas eu não pretendo mudar o meu pensamento.”

“Eu me sinto desconfortável a respeito disso. Incluindo você, os heróis que foram escolhidos são todos jovens. Dá pra dizer que Chamo e Goldof ainda são crianças. Eu me pergunto se a Deusa do Destino cometeu um erro ao escolher vocês.”

De fato, aquilo era verdade. Adlet e Nashetania ainda tinham 18. E, apesar dele não saber a idade de Fremy e Hans, eles não pareciam mais velhos que ele.

“Não existe força apenas na experiência. Jovens tem a força da juventude.”   

“Verdade, mas...”

“Você vai se sentir melhor se pensar que nem eu. Se continuar sendo pessimista, vai acabar sendo incapaz de fazer as coisas que normalmente conseguiria.”

“Entendo. Pergunto se pensar assim também seria um privilégio da juventude.” Mora disse e então sorriu.

Mas se fosse olhar pela perspectiva normal do mundo, Mora também poderia ser considerada alguém jovem. Apesar da maneira que falava a deixar mais velha, Adlet se perguntava quão velha ela era.

“Não tente adivinhar a idade de uma mulher, idiota.”

Ela era afiada. Adlet deu um sorriso envergonhado.

Nashetania, então, levantou-se. A vitalidade havia voltado ao seu rosto, e Adlet enxergava a vontade de lutar em seus olhos.

“Estou mais calma agora. Desculpe pelo contratempo.”

Os sete, que estavam separados pelo quarto, voltaram para o altar. Enquanto faziam isso, Goldof, mais uma vez, voltou a segurar Fremy pelas correntes.

“Vamos lá fora. Nós devemos rastrear quem ativou a barreira. Mas primeiro deveríamos procurar por pistas. Adlet, explique para a gente com o máximo de detalhes possíveis, o que aconteceu quando a barreira foi ativada.”

Mora apressou todos a saírem do templo, e, enquanto Adlet andava, Nashetania segurou sua mão.

“Algum problema, Nashetania?”

“Hmmm, não pense em mim como alguém incapaz. Eu só tive uma pequena crise, não vai acontecer de novo.”

“Eu entendo. Você é do tipo que faz uma piada em vez de passar por um momento de fraqueza.”

Nashetania fechou a mão em um punho na frente do rosto de Adlet.

“Eu farei o meu melhor!” 

“Em fazer piadas?”

“Não, em derrubar a barreira e descobrir o sétimo.”

Os sete saíram do templo e, a frente deles, Adlet contou o que aconteceu, tão bem quanto sua memória permitia. Primeiro, ele falou do Kyoma Transmorfo que estava caído ao redor dos pilares de sal, também contara como ele, fingindo-se de uma mulher comum, havia o apressado a entrar no templo, e como, após aquilo, ela revelara sua verdadeira identidade e fugira.

“Aquele Kyoma deve ter informações. Se nós conseguirmos capturá-lo e o fazer falar...” Goldof disse.

Mas, antes de terminar, Chamo ficou vermelha de vergonha. “Desculpa, Chamo disse. Ela fugiu para a direção que Chamo estava.”

“Droga...” Goldof praguejou.

“Mesmo se nós a capturássemos, conseguir tirar informação do Kyoma seria praticamente impossível.” Mora disse, dando suporte a Chamo. “Os Kyomas são criaturas leais. Se eles forem ordenados a não falar, eles não falam, mesmo se forem mortos.”

Adlet, então, continuou sua história, contando a eles como a porta estava trancada e ele a explodiu.

“Estranho. Estava trancada? Eu achava que era comum trazer uma chave junto.”

Enquanto Chamo tombava o pescoço para o lado, Mora tirou a chave de dentro de sua armadura. “Eu tenho. Até mesmo o Soldado de Primera Classe Rowen, provavelmente, não pensou que algo assim iria acontecer.

Adlet mais uma vez continuou sua historia,  contando a eles sobre os dois soldados de armadura que o atacaram quando ele explodiu a porta. Isto era o mais chocante. Adlet foi atacado, mas não parecia ter sido humanos que eram prisioneiros dos Kyomas.

“Esta armadura? Eu estou interessada nisso já há algum tempo.” Nashetania pegou a armadura caída no chão e a olhou por dentro. Não havia ninguém dentro delas, estava vazia. “O interior dessa armadura está repleta de escritas sagradas, tão intrínsecas que não consigo ler.”

“Estes guardas foram feitos pela Santa dos Selos. Eles atacariam qualquer um que abrisse a porta de maneira que não fosse a certa, no caso, usando a chave.” Mora explicava.

“Wow, um ótimo plano.”

“O rei das nações de ferro que fez essa barreira foi bem discreto. Para prevenir os inimigos de descobrirem a barreira, e não ser usada de uma maneira errada.” 

“Mas está sendo usada de maneira errada agora.”

Apesar de ter sido feita com boas intenções, eles não estariam presos na floresta se não fosse pela barreira. E, agora, Adlet queria interrogar a pessoa responsável pela situação atual deles.

Ele estava pronto para continuar sua história quando notou Hans olhando estranhamente para dentro da armadura, então, dirigindo o mesmo olhar para a porta quebrada. Sua face estava séria, mas, antes que Adlet pudesse perguntar qual era o problema, Mora o apressou a continuar a descrição dos eventos decorridos.

“E após isso?” 

“Ah, quando eu abri a porta, a barreira já tinha sido ativada. Creio eu que o nevoeiro começou a surgir no momento em que eu explodi meu caminho para dentro do templo. E quando entrei, a espada já estava cravada no pedestal.”

“... Então a barreira se ativou no momento que você abriu a porta.”

“E não havia ninguém, nem uma sombra dentro do templo. Francamente, eu não conseguia acreditar.”

Após ouvi-lo, Mora cruzou os braços para pensar. “Isto não parece o trabalho de uma pessoa normal. Sem nenhuma dúvida uma Santa está envolvida.”

“Uma Santa...? Por que uma Santa se aliaria ao Majin?”

“Provavelmente por chantagem ou algum tipo de ameaça. É uma tática que os Kyomas usam com frequência.”

Adlet olhou para Mora. “Desde que você seja a líder de todos os templos, deve provavelmente saber, existe alguma Santa capaz de fazer isso?”

“...Ilusões? Não, é impossível. Eles tiveram um método de deixar esse local, sem se mostrar para você... ninguém com uma habilidade dessas vem à mente.”

“Meow, Adlet!” Hans gritou inesperadamente. “Não tem nada errado com sua memória, certo?”

“Eu acho que não... Qual o problema?”

“Entendo. Vou perguntar mais uma vez. Não existe nada errado com sua memória, certo?”

Adlet estava confuso.

“Se você quer corrigir suas palavras, agora é o momento. Depois disso, mesmo se você falar que quer mudar, não será tão fácil.”

“Sim, o que acontece?”

“Quando você entrou no templo, a espada já estava cravada no pedestal. Você tem certeza disso?”

“Sim. Tenho.”

“Vou perguntar mais uma vez. Tem realmente certeza?”

“Você é teimoso, hein. Eu estou dizendo que tenho certeza. Por que não acredita em mim?” 

Naquele momento Hans discretamente colocou a mão no cabo de sua espada. Se ele pretendia a sacar ou não, Adlet não tinha certeza, mas parecia estar pronto.

“... Eu sou um assassino. Logo, sou um especialista quando se trata de entrar e escapar de um lugar furtivamente, meow.”

“Oh, bom, isso é confiável.” Mora disse.

“Para pessoas com o emprego como o meu, A Santa que mais tememos é a dos Selos. Isto porque, quando se trata dela, ela faz portas estranhas em todos os lugares. As fechaduras não podem ser abertas, a pessoa não pode sair se a porta for fechada e, se a porta estiver aberta, os pinos de ferro iriam trancá-la no lugar da fechadura. Eu já estive em situações complicadas por causa dela. Então, posso dizer que sou bem informado a respeito das portas dessa Santa.”

“Então...”

“Esta porta foi bem feita. Em vez de ser descomunalmente forte, foi construída para que não pudesse ser fechada uma segunda vez que fosse aberta.”

“Espere, o que você quer dizer com isso?”

“Sou eu aqui que faço as perguntas, Adlet, e sua história é estranha. Você disse que quando chegou, a porta estava fechada, e que você quebrou no momento que a barreira foi ativada. Então, se foi assim, como a pessoa que ativou a barreira conseguiu entrar?”

“O que você está tentando dizer?”

Provavelmente havia vários métodos que uma pessoa poderia usar para entrar.

“Meow, Adlet. Antes de você quebrar a porta, era impossível entrar no templo. Era absolutamente impossível.”

“Espere! Isto não é necessariamente verdade.”

Adlet entrou no templo e procurou por janelas, mas não havia nenhuma. A única que existia era feita de um vidro grosso com barras de ferro. Ele, então, procurou por passagens na parede, mas não encontrou nenhuma marca nela.”

Embasbacado, ele olhou para o templo e pensou como o culpado poderia ter escapado após ativar a barreira. Mas ele não chegou a nenhum resultado.

“Adlet, você vai morrer se não der algum jeito de explicar. Se ninguém seria capaz de entrar no templo, então, como a pessoa que ativou a barreira entrou? Meow?”

“... Isto...”

“A porta não pode ser fechada se for aberta uma única vez. E, fora a porta, não existe nenhuma outra saída. Você acha que alguém pode ter entrado no templo sob essas circunstâncias? Mesmo se eles usassem um Kyoma especial para isso, Kyomas não podem se aproximar do templo. Então, algum humano deve ter entrado.”

“...”

“Por sinal, deixe-me dizer uma coisa agora. Quando você não pode entrar ou sair de um local, pessoas como eu chamam de quarto fechado.”

Um quarto fechado. Aquela frase incomum atravessou a mente de Adlet. E, por mais que ele tentasse, ele não conseguia achar uma maneira de fugir do quarto.

“Eles provavelmente cavaram um buraco. Eles tiraram as pedras, cavaram um buraco e se infiltraram no quarto por ele. Então, ativaram a barreira, escaparam pelo mesmo buraco, no mesmo momento que eu explodi a porta, e rapidamente fugiram.”

“Meow? Em um instante? Como?”

“Talvez exista uma Santa que tem esse tipo de poder, certo? A Santa da Terra ou algo assim.” Adlet disse enquanto procurava por um rastro do buraco.

Mas então Chamo disse “Não tem nenhum tipo de buraco.”

“Por que pensa isso?”

“Quando você e Hans estavam indo para as pontas da barreira, Mora-obachan disse que poderia ter pessoas escondidas por perto. Então, Chamo usou o poder dos pântanos e tentou procurar pelo subterrâneo e na floresta. Mas Chamo não encontrou nenhum sinal de buracos cavados e túneis subterrâneos.”

O poder dos pântanos... a habilidade de procurar embaixo da terra? Que diabos de poder é esse...

“Adlet, eu também vi onde Chamo estava procurando. Creio eu que não havia um buraco escavado por lá.” Goldof disse, e Nashetania concordou. Adlet não tinha escolha, a não ser acreditar neles.

“Ainda digo mais. A Santa da Terra não possui esse tipo de poder. E mesmo com as habilidades de Chamo, cavar um buraco e escapar no mesmo instante é impossível.” Mora comentou.

E agora, com cada um falando sobre aquela teoria, Adlet não tinha escolha a não ser desistir da ideia de que alguém havia escavado um buraco.

“Tudo bem se não for um buraco. Mas eles usaram algum tipo de poder das Santas.” Adlet disse, virando-se para Mora. “Mora, deve ter alguém. Deve existir uma Santa com o poder de abrir a porta e entrar no templo.”

“Desculpe-me, mas não. O poder da Santa dos Selos não pode ser quebrado. Eles poderiam forçar a porta abrir, mas, uma vez aberta, não poderia ser fechada.”

“Não pode ser verdade, se não existe um Santa com tal poder, então ninguém… pode entrar no templo.” Adlet disse e parou um segundo para pensar. “Existem Santas desconhecidas, criadas pelos Kyomas, assim como Fremy.”

“Não, não existem. Minha mãe disse que eu era a única criança criada a partir de um humano e uma Kyoma.” Fremy falou em uma voz fria.

Ao olhar na direção da garota, Adlet viu Hans sacando sua espada silenciosamente, e Chamo estava colocando a Setaria próxima aos lábios

“Parem, Hans, Chamo. Vamos pensar mais um pouco. É muito cedo para tomar qualquer decisão.” Mora disse parando os dois, mas, ao mesmo tempo, olhou para Adlet com suspeita.

“...  ahm? Hum, realmente não entendo o que vocês querem dizer” Nashetania falou nervosa. “O que vocês querem dizer com isso? Goldof? Hans-san? Mora-san? Adlet-san?”

Enquanto a tensão aumentava gradativamente, apenas Nashetania não entendia a situação.

“...  Eu te conto, princesa. Nesse momento, Adlet é o mais suspeito.”

“Meow, realmente. Eu tenho certeza disso.”

“Por quê!? Isso é impossível! Adlet-san é o único que definitivamente não é o inimigo!” Nashetania parecia gritar distantemente.

“Meow, isso não é verdade, porque, até Adlet abrir a porta, ninguém poderia ter entrado no templo. Se ninguém havia entrado no templo antes de Adlet, quem você acha que ativou a barreira?”

“Não é Adlet-san! Deve ter ocorrido algum engano!”

Os ombros de Hans tremiam enquanto ele ria. “Você não tem coração por ter enganado ela, Adlet. Não deveria você fazer o seu melhor para limpar todas as suspeitas, meow?”

“Eu estou chocada que nossas posições mudaram tão rapidamente.” Fremy disse. Até mesmo Goldof, que estava segurando as correntes de Fremy, olhava para Adlet com cautela.

“Até alguns momentos atrás ele havia te apoiado, Fremy. Por que você também não o ajuda?”

“Eu não posso ajudá-lo. E não tenho nenhuma intenção de fazê-lo.” Fremy respondeu friamente a pergunta de Mora.

“A porta...” Adlet murmurou. “O culpado abriu a porta e entrou. E, na hora de sair, ele retirou a porta, colocando uma nova em seu lugar e selando novamente o templo. E ele ficou nos arredores do templo. Quando eu cheguei na frente do templo, o culpado ativou a barreira. No momento em que eu abri a porta, ele furtivamente escapou! Seguindo essa linha de raciocínio, então, é possível eles terem invadido o tempo e escapado!”

Essa foi uma explicação fraca, e, após ouvir isso, Hans começou a gargalhar da tentativa desesperada de Adlet de ser explicar.

“... Essa porta foi criada pela antiga Santa dos Selos. A atual Santa dos Selos é inexperiente, e seria impossível para ela criar uma porta tão incrível como essa!”

“E qual o problema disso? Não seria possível que a Santa anterior tenha a feito?” A voz de Adlet falhava, ele claramente não conseguia esconder seu pânico.

“A Santa anterior morreu há quatro anos. E seria impossível para qualquer pessoa além dela ter criado essa porta.”

Eles haviam negado a sua teoria desesperada. 

Então, naquele momento, sem pensar, Adlet gritou para Hans: “Você é o sétimo!”

Não havia outra possibilidade. A história da porta, a santa, era tudo mentira. Qualquer coisa além de uma mentira era impossível.

“Infelizmente, Adlet,” Mora comentou, “A teoria de Hans está certa.”

Adlet não conseguia pensar em mais nada para responder.

Tremendo, Nashetania disse, “É... É uma mentira. Adlet-san, isso... isso é besteira.”

Ela era a única que ainda acreditava que ele era inocente. Por que isso está acontecendo?

Era uma armadilha, e Adlet havia caído nela.

O sétimo não havia apenas prendido eles na barreira, como também havia feito uma armadilha que levaria os seis heróis a matarem uns ao outros.

“Então, o que deveríamos fazer? Digam-me o que vocês pensam.”

“Pensamento sobre o quê!?” Adlet gritou, mas Mora não respondeu. Ela não precisava. Os pensamentos que ela queria ouvir eram se Adlet era culpado ou não, para saber se eles deveriam matá-lo.

“É claro que eu acho que Adlet é o culpado. Vamos matar ele imediatamente.” Hans disse.

“Eu sou contra. Matar Adlet-san? Nós não podemos fazer isso!” Nashetania gritou.

“Bom, Chamo ainda está interessada na Fremy. Mas após toda essa conversa, Chamo além de torturar Fremy, também pode torturar Adlet?” Chamo deu uma risadinha. Ela estava falando sério ou foi uma piada?

“O pensamento de Hans está correto. Mas é melhor nós matarmos ele depois que analisarmos melhor a situação.” Após Moura ter falado aquilo, os cinco heróis olharam para Goldof e Fremy.

Fremy falou primeiro. “Eu não tenho nenhuma opinião a respeito. Façam o que vocês quiserem.”

“Fremy...” Adlet cerrou os dentes. Ele desejava que ela tivesse ficado ao menos um pouco ao seu lado...

“Entendo. E você, Goldof?”

Goldof fechou os olhos por um momento. E, ao mesmo tempo, ele soltou as correntes de Fremy.

“Goldof... Você entende, certo? Adlet-san não é o inimigo.” Nashetania disse.

Goldof, então, abriu os olhos e disse, “Minha opinião é essa...” No mesmo tempo em que falava, ele removia a lança que estava presa em suas costas. E, em um piscar de olhos, diminuiu a distância entre ele e Adlet.

“Goldof!” Nashetania gritou.

Adlet tentou saltar para o lado em uma tentativa de escapar do ataque de Goldof. Mas ele não foi rápido o suficiente. Ele conseguia esquivar-se da ponta da lança, mas recebia o impacto do corpo do cavaleiro, sendo arremessado contra a parede.

Ao mesmo tempo, Hans havia sacado a sua espada e avançava em uma velocidade descomunal em direção a Adlet. Naquele segundo, Adlet não conseguia pensar em nada, a não ser em como o Hans conseguia se movimentar tão rápido.

Ninguém sabia se era instinto de guerreiro, reflexos inconscientes condicionados, ou talvez apenas o destino. A mão de Adlet foi até um de seus bolsos e retirou algo. De todos os itens secretos que ele poderia tirar de seus bolsos, o que ele segurava agora era o mais conveniente para aquela situação. À primeira vista, parecia nada mais do que um pequeno pedaço de metal embrulhado em um papel. Mas quando ele pressionava o elemento químico com os fragmentos de metal, uma reação química ocorria.

“Hah!” O item causava uma explosão de luz mais forte do que olhar para o sol. Uma bomba de fumaça não seria efetiva contra Hans ou Goldof, mas ambos não saberiam como reagir diante daquele ataque.

Todos cobriram os olhos da luz. E, naquele momento, a mente de Adlet procurou uma maneira de escapar daquele templo. Apesar dele não ter certeza se o que ele tinha pensado era correto ou não, ele não tinha mais tempo para pensar em outra coisa.

Então, Adlet correu rapidamente em direção a Fremy, essa que ainda estava presa pelas correntes. 

Ele seria capaz de fazer qualquer coisa para vencer. Ele usaria todas as oportunidades. Ele não deixaria nada passar, independente se aquilo era considerado honroso ou não. E era por isso que ele se chamava de o homem mais forte do mundo, pois não era qualquer pessoa que tinha capacidade de realizar o que fosse necessário para alcançar seus objetivos, os meios justificavam os fins. Se aquilo era certo era outra história, mas aquele era o princípio que ele seguia.

Quando Hans e Goldof recuperaram sua visão, Adlet estava com Fremy em cima de seus ombros. Com um dardo com sonífero espetado nela e a espada de Adlet pressionada contra sua garganta.

“Ninguém se mova! Se vocês se moverem, eu vou degolá-la.” Adlet disse, e a ponta de sua espada já havia tirado um pouco de sangue do pescoço da garota.

Como se estivessem congelados, os cinco cercando Adlet pararam de se mover. Aquela era sua única opção. Ele tinha apenas dois dardos de sonífero, e as outras armas secretas não conseguiriam a oportunidade que ele precisava.

“Não pode ser... verdade.” a espada de Nashetania caía de suas mãos e cravava no chão.

“Então é verdade.” Mora disse.

“Me-meow. Isto é mais do que eu esperava.”

Adlet e os outros cinco se encaravam. Porém, o maior problema para Adlet, era que Hans estava bloqueando a saída.

“Saia do meu caminho!”

“Você diz para eu sair do seu caminho, mas eu não vou, meow. Você diz para eu não me movimentar, mas agora você quer que eu me movimente?”

“Certo, não se mova, continue aí.”

“O que eu deveria fazer, huh?” discretamente, Hans mirou a sua espada para acertar no pescoço de Adlet, mas Adlet não baixou a guarda para dar tal oportunidade.

“Deixe com Chamo.” Ela disse, levando a ponta da Setaria até os seus lábios.

Mas Mora impediu. “Pare. Com seu poder você também vai atingir Fremy, isso não pode acontecer.”

“Então, o que deveríamos fazer?”

Cansado de esperar, Adlet gritou, “Quem permitiu vocês planejarem!? Faça a sua escolha, Hans! Saia do caminho, ou não saia!”

“Meo-meow! Eu entendi, eu entendi, eu vou sair da sua frente, então não grite!” Hans falou e se distanciou da porta.

No mesmo segundo, Adlet usou outra bomba de luz. Novamente, todos cobriram os olhos, menos Adlet. Mas é claro, o mesmo ataque já havia sido usado uma vez, então, dessa vez, seria menos efetivo.

Ainda segurando Fremy, Adlet correu pela porta. E, naquele momento, ele sentiu uma dor atravessar suas costas. Hans havia arremessado a sua espada nas costas de Adlet.

“Guh!”

Agora. Adlet jogava uma bomba de fumaça, impedindo que Hans e os outros o seguisse. E tendo apenas as armas secretas em suas mãos, Adlet fugiu.

Ele passou pelos pilares de sal e entrou na floresta. Então, correu, correu e continuou correndo. Ele continuava avançando velozmente para longe do som dos passos que o perseguiam.

Suas costas queimavam de dor, porém, ele não podia retirar a espada. Se ele a retirasse, então, o sangue iria jorrar de suas costas e ele seria incapaz de se movimentar. Então, correr com a espada cravada em suas costas era a única opção que ele tinha naquele momento.

“... Droga!” Enquanto corria, Adlet se perguntava se o que ele tinha feito era certo. Mas não era. Após o que ele tinha feito, nenhum dos outros iria acreditar nele. Porém, para sobreviver, ele faria qualquer coisa.

Ele se perguntava quantas horas ele tinha corrido. E o sol começava a se pôr no horizonte.

Antes que ele notasse, ele não conseguia mais ouvir o passo dos outros. Adlet, então, parou, tirou Fremy de seus ombros e caiu sentado no chão.

No momento em que caiu sentado, ele descobriu que não conseguia mais se movimentar. O sangue havia parado de circular em sua cabeça e seus pensamentos estavam desorientados. Antes que Fremy acordasse, ele precisava tirar a espada de suas costas, após isso, espetar outro dardo com sonífero nela e, fora isso, ele ainda tinha que se planejar sobre como enfrentar os outros.

Mas ele não podia mais movimentar seu corpo. Adlet, então, caiu deitado no chão e começou a perder a consciência.

Seus lábios se moveram levemente. “Se você perder a consciência, então, será o seu fim.” Ele disse para si mesmo. Entretanto, a consciência de Adlet afundava na escuridão, como se estivesse sendo puxada por algo.

O que você está pensando, Adlet Maia? Você é o homem mais forte do mundo, certo? Você não pode morrer em um lugar como esse. Enquanto ele repetia essa frase sem parar em sua mente, ele levou a mão até as suas costas.

Mas a mão que tentou retirar a espada, caiu sem vida no chão. E com aquele último movimento, Adlet desmaiou.


Através da floresta escura, Hans corria em busca de Adlet.

“Hans! É o suficiente! O sol já se pôs.” A barreira agora era coberta pela escuridão, a voz de Mora ressoava pelo ar.

Hans parou e respondeu, “Meow? Que tipo de besteira você está dizendo?” 

“É perigoso continuar. Adlet é uma pessoa capaz de usar qualquer tática para vencer. Sua especialidade está na escuridão.”

“Tem certeza? Fremy pode acabar morrendo!”

“Hans. Mostre-me o seu brasão. Já que o meu é nas costas eu não consigo enxergar.”

“Por que você quer vê-lo?” Hans erguia a camisa e mostrava a marca em seu peito.

“Fremy ainda está viva, significa que Adlet considera ela como um refém valioso.”

“Como você sabe disso?”

“É só você olhar para a sua marca.”

Hans olhou para o brasão em seu peito. A marca das seis flores brilhava com uma luz fraca.

“Eu não tive tempo de explicar antes, mas tem seis pétalas na marca, certo? Se um dos heróis das seis flores morrer, uma das pétalas irá se apagar. É assim que nós vamos saber se os nossos companheiros estão vivos ou não.”

“Eu não sabia disso.”

“Goldof, Chamo e a princesa estão voltando para o templo agora. Vamos retornar também.”

Ainda com certa incerteza no rosto, Hans seguia Mora. Quando eles chegaram no templo, eles encontraram os outros três esperando por eles.

“Isso não é bom. Nós perdemos completamente o rastro dele. Adlet é extremamente rápido.”

“Mesmo com uma espada cravada em suas costas, ele ainda foi capaz de se movimentar daquela maneira. Ele é resistente.”

Mora suspirou. “Não podemos fazer nada... Vamos continuar procurando amanhã. Até lá, só podemos rezar para que Fremy continue viva.”

Após aquilo, Mora se encostou na parede e fechou os olhos. Cada um deles estava descansando calmamente, exceto por Nashetania, que estava abaixada, apertando a própria a cabeça.

“Adlet-san... Por quê? Por que você fez isso?”

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O sétimo havia ficado chocado com a velocidade de Adlet, assim como também seu raciocínio rápido e sua sorte. Nunca havia imaginado que ele seria capaz de escapar daquele jeito, mesmo cercado pelos outros. Parecia que o sétimo havia feito um erro ao julgar Adlet como um inferior aos outros companheiros.

Porém, era algo de pouca importância. Independente do caminho que Adlet escolhesse, ele ainda seria derrotado. Agora, a única coisa que Adlet estava esperando era que um dos outros o matasse.

Então o sétimo deixaria Adlet correr livre por hora, não havia necessidade para apressar os planos.


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Enquanto os cinco haviam parado de perseguir Adlet, ele estava caído no chão perdendo a consciência. Com a chegada da noite, Adlet tinha um sonho. Era um velho e nostálgico sonho, do tempo que ele era criança...

Gritando, Adlet levantava um pedaço de madeira acima de sua cabeça. Segurando um pequeno pedaço de madeira, ele tentava acertar um garoto a sua frente. Mas o outro menino facilmente esquivava do ataque e acertava Adlet no ombro com o pedaço de madeira que ele segurava.

Adlet gritava e derrubava sua arma.

“Hahaha, outra completa derrota para Adlet.” O outro menino ria. Seu nome era Raina. O amigo de Adlet que era três anos mais velho que ele.

Eles estavam em uma vila pequena, no meio das montanhas em Aurora, a nação do lago branco. Era um local comum, onde havia uma população de cinquenta pessoas que sobreviviam de criar ovelhas, fazer trigo e colher cogumelo das montanhas. E era exatamente por causa disso que sua cidade era comum e Adlet a achava tão preciosa. Ela era conhecida como Hasuna.

Na ponta dos campos onde as ovelhas estavam andando, Adlet e Raina estavam treinando luta de espada. Eles eram os únicos garotos da vila e, quando eles encontravam tempo, eles treinavam com suas espadas de madeira.

Os rumores diziam que o ressuscitar do Majin logo aconteceria, e até mesmo uma vila remota como Hasuna estava sabendo. O território dos Demônios Atormentados não era muito longe da vila. E eles pensaram que talvez os Kyomas daquela região os atacariam. Então, os garotos organizaram uma força de defesa possuindo apenas dois membros, eles.

“Adlet, fique mais forte. Se você continuar assim, você não será capaz nem de vencer a minha mãe, imagine então um Kyoma.” Raina dizia enquanto enforcava Adlet. “Bom, vai dizer que você queria que minha mãe estivesse na força de defesa?”

“O que você quer dizer com isso!? Eu e você, essa é a força de defesa e pronto!” Adlet gemia enquanto massageava os machucados em seu corpo.

Na verdade, Adlet não tinha nenhum interesse em participar da força de defesa com Raina. Mas, de qualquer forma, os Kyomas não iriam chegar já que os Heróis das Seis Flores iriam derrotar o Majin para eles. E se os Kyomas de fato chegassem, não teria problemas eles darem a volta e fugir. Era isso o que Adlet pensava, mas ele não conseguia negar o pedido de seu único amigo.

“Raina! Cadê você? Eu sei que você está brincando com o Ad!” Uma voz chamava por Raina a distância. Era sua mãe chamando por ele, já que era para ele estar colhendo o trigo dos campos ao invés de estar brincando. Raina, entretanto, mostrou a língua e saiu correndo na direção contrária de sua mãe.

Para Adlet, aquele era um dia horrível. A partir do ponto que ele também fazia parte da força de defesa, ele também tinha como função acalmar a raiva da mãe de Raina.

“Ah, seja bem-vindo, você deve estar cansado.”

Quando Adlet finalmente havia chegado em sua casa de pedra, o cheiro de cogumelos assados e a voz de uma mulher no meio de seus vinte anos de idade o cumprimentou. O nome dela era Shetra, ela era a guardiã de Adlet.

“Mana, diga a Raina que eu não vou participar de outra sessão de treino com ele.”

“Pessoalmente, eu acho que é bom. E até mesmo Raina não está fazendo elas com má intenção.”

“Eu estou cansado! Tudo bem se eu não ficar forte. Além do mais, eu odeio lutar”, Adlet reclamava enquanto colocava um pedaço de pano sobre a mesa. Enquanto fazia isso, um delicioso cheiro de comida impregnava a casa.

“Esses não são cogumelos guarda-chuva? São ingredientes perfeitos que foram colhidos fresquinhos.”

Após a fuga de Raina, Adlet entrou na floresta para pegar cogumelos. Naquele dia, ele havia encontrado cogumelos raros. Encontrar cogumelos deliciosos era o hobby de Adlet, assim como também sua maior habilidade.

Shetra cortava os cogumelos e quando adicionava os temperos, eles ficavam com um cheiro ainda melhor.

Três anos atrás, Adlet perdeu seus parentes e Shetra perdeu o seu marido em uma epidemia. Shetra adotou Adlet e após aquilo os dois viveram juntos sobre o mesmo teto, um dependendo do outro. Shetra tosava a lã das ovelhas e Adlet fazia queijo do leite delas. Os dois ganhavam a vida vendendo esses produtos para as outras pessoas da vila.

Era uma memória de quando Adlet Maia tinha dez anos. Naquele tempo, ele era feliz. Shetra abraçava o menino que havia perdido os pais e fazia Adlet sorrir novamente. Adlet adorava o cheiro de terra e de animais domésticos que ela tinha.

E mesmo sendo uma pessoa difícil, Raina também era seu querido amigo. Mesmo Adlet estando cansado de participar da força de defesa com apenas os dois estando nela, ele entendia que aquela era a maneira de Raina se preocupar com ele e com a cidade.

As outras pessoas da vila eram boas pessoas também. Eles diziam que o seu queijo mal feito era bom e compravam dele, apesar de Shetra fazer algo muito melhor.

Naquele tempo, Adlet era um garoto comum. Ele nunca havia pensado que poderia se tornar um dos Heróis das Seis Flores. Ele era hábil em colher cogumelos. E, naquele tempo, o seu objetivo na vida era ser capaz de fazer queijos mais gostosos.

Ele acreditava que aqueles dias continuariam para sempre... Mas aquele era um sonho de um tempo que havia passado completamente...

“O que você quer aqui?”

A imagem em seu sonho mudava e agora ele estava em uma casa no meio da floresta.

Localizado em uma densa floresta, o local parecia com uma casa que havia sido construída dentro de uma caverna. E dentro, um homem estava sentado no chão de pernas cruzadas. 

“Atro Spyker, eu ouvi falar que se eu for ensinado por você, eu ficarei forte.”

Adlet tinha uma trágica aparência. Suas roupas estavam rasgadas, seu corpo estava magro com os ossos aparecendo. Ambas as suas mãos estavam cobertas de sangue, e, como um corpo morto, seus olhos não tinham vida.

“Vá embora para as montanhas. Se você pensa que é forte então se junte aos cavaleiros. Se você é um plebeu então se junte aos mercenários.” O velho... Atro disse em uma voz baixa e rouca.

“Isso não vai funcionar. Vai me fazer mais forte, mas não vai fazer com que eu me torne o mais forte do mundo.”

“... mais forte do mundo?” Atro balançava a cabeça. Entretanto, Adlet não conseguia dizer exatamente o que era aquela expressão que o homem fazia.

“Eu não serei capaz de ser mais forte do mundo por meios comuns. Para me tornar o mais forte, eu tenho que seguir por um caminho diferente do normal. Eu vou me tornar o homem mais forte do mundo. E após eu ter feito isso, eu vou derrotar os Kyomas.”

“Por que você quer ser forte?” Para a pergunta do homem velho, Adlet respondeu, “Para recuperar o que foi roubado de mim. Mais do que qualquer um, eu tenho que me tornar mais forte e recuperar o que eu perdi.”

“Desista.” Atro disse cruelmente. “Você não pode recuperar o que perdeu. Desista e continue a viver.”

“Isso não é verdade!” Adlet gritou. “Eu vou recuperar! Se eu não o fizer, qual razão eu terei de continuar vivendo!? Se eu não derrotar o Majin e não conseguir lutar contra os Kyomas, então não terá nenhum valor eu continuar vivo.”

Por um curto período de tempo, Atro olhou Adlet nos olhos e pensou, então, ele disse, “Você acha que eu sou um idiota? Você acha que é fácil se tornar o mais forte do mundo?”

Com lágrimas escorrendo pela face, Adlet dizia, “Eu não me importo se você tirar sarro de mim, não me importo se você rir de mim. Eu vou continuar até me tornar o mais forte do mundo, eu vou continuar gritando até me tornar o mais forte do mundo. Se eu não acreditar, então quem irá acreditar em mim?”

Atro olhou para o céu, como se estivesse pensando em algo. Então, ele lentamente se levantou e em seguida deu um chute no estômago de Adlet, derrubando-o. O chute fez Adlet perder o fôlego e, mesmo com o estômago vazio, ele sentia o vômito subindo.

Atro continuou a chutar ele em suas costelas e costas sem parar. Então, ele pisou no rosto de Adlet e o pressionou contra o chão.

“Ria.” Ele disse. “... Huh... lau...” Mesmo que ele tentasse dizer alguma coisa, as palavras não vinham. Ele sentia tanta dor que pensou que iria morrer.

“Se você quer ficar forte, então, ria.” O pé de Atro mais uma vez se chocava contra as costas de Adlet. 

“Os momentos tristes de quando você quer morrer. Os momentos dolorosos de quando você quer abandonar tudo e correr. Os momentos de desespero em que você não consegue enxergar o sol. Uma pessoa que consegue rir, pode ser forte até mesmo nesses momentos.”

Os lábios de Adlet começavam a tremer, suas bochechas se contorciam, baba pingava de sua boca e de nenhuma maneira parecia que ele estava sorrindo. Mas ainda assim ele ria.

Atro, então, continuou a espancar Adlet. Quando ele chutou o rosto de Adlet, sangue jorrou de seu nariz. Quando ele chutou em seu estômago, o que saiu de sua boca foi uma mistura de sangue e vômito. Independente do que o menino parecesse sofrer, Atro nunca parou de bater nele. Cuspindo sangue com vômito, seu nariz sangrando e lágrimas escorrendo por seu rosto, Adlet ria. E aquela foi a primeira habilidade que Atro ensinou a ele.

#

Adlet acordou. Ele teve sonhos embaralhados e confusos.

“... uh.” 

Ele estava na floresta, chocado que ainda estava vivo. 

Huh?

Quando ele havia caído, ele tinha certeza que tinha caído de cara no chão, mas agora estava deitado com o rosto virado para cima. A raíz de uma árvore estava lhe servindo como travesseiro.

Ele levou a mão até as costas, mas a lâmina que deveria estar cravada em sua carne não estava mais lá. Seu ferimento havia sido tratado, o corte costurado, e a área inteira do machucado estava coberta por bandagens.

Me pergunto quem cuidou dos meus ferimentos. Talvez Nashetania tenha me achado.

“Você acordou.” Uma voz disse na escuridão do nevoeiro. Adlet podia ver vagamente a silhueta do corpo de Fremy.

“O golpe não acertou nenhum de seus pontos vitais, se você descansar irá se recuperar logo.”

“Você cuidou do meu ferimento?” Adlet perguntava enquanto se sentava.

“Exato.”

“Por quê?” Fremy também achava que Adlet era o sétimo. E eles tiveram um turbulento encontro quando se viram pela primeira vez. Ele não conseguia pensar em nenhuma razão para ela ter o ajudado.

“Eu tenho 99% de certeza de que você é o sétimo. Mas, por causa desse 1%, eu cuidei de seus ferimentos.”

“... É verdade, eu sou um dos seis. Eu vim lutar contra o Majin.”

“Certo. Eu não acredito em você.” Fremy disse e olhou para o lado.

A floresta estava quieta. Adlet se perguntava se os outros cinco talvez tivessem desistido de procurar por ele, já que ele não escutava nenhum som de perseguidores.

Então, o que eu deveria fazer agora? Independente do que seja, eu tenho que provar a minha inocência. Mas como?

“É triste, mas eu não tenho nenhuma ideia de como o culpado entrou no templo.”

“Provavelmente, porque você é o culpado.”

“O que Hans disse era verdade? Não havia nenhum meio de abrir aquela porta?”

“Eu não tenho tanto conhecimento quanto Hans. Mas eu também sei um pouco sobre a Santa dos Selos. E eu acho que o que ele disse está correto.”

“...”

“E Mora também disse que não existia outra maneira de entrar no templo.”

Se aquilo fosse verdade, então, nada vinha a sua mente. Talvez Mora, Hans e Fremy eram cúmplices. Mas apenas um dos sete poderia ser o inimigo, e os outros estavam sendo enganados.

Era impossível para os Heróis das Seis Flores continuarem daquela maneira, sem saber quem era o inimigo. Em outras palavras, se todos concordassem em uma opinião, então, sem dúvidas, o que eles concordassem seria verdade.

“Talvez a culpada seja Mora.” Adlet disse. Ela havia dito que nenhuma Santa era capaz de entrar no templo fechado. Mas e se o que ela tinha dito era mentira? E se ela era cúmplice da Santa que havia conseguido se infiltrar no templo, então o quê?

“Pode ser possível. Mas você não pode provar sem capturar o culpado que se infiltrou no templo e mostrar para todo mundo as habilidades dele.”

“Não, talvez existam Santas que até mesmo ela não conheça. Ela não sabia de você, então, ela não pode afirmar com certeza que não exista nenhuma Santa desconhecida.”

“Continua o mesmo, sem capturar a Santa, você não pode provar nada.”

Então, de um jeito ou de outro, ele teria que capturar o culpado que havia ativado a barreira.

“Certo, vamos analisar com calma. Primeiro, existem dois inimigos, mas um deles estava no meio dos sete, e o outro estava escondido no templo e ativou a barreira.”

Não havia erro naquilo, era impossível para qualquer um, além de Adlet, ativar a barreira, já que os outros estavam distantes. Fremy, Nashetania e Goldof estavam lutando contra os Kyomas. Mora e Hans estavam em seu caminho para o templo. E a localização de Chamo era a única que ele não tinha certeza. Mas informações diziam que com as habilidades dela, ela não poderia entrar furtivamente no templo.

“Tem a pessoa que possui o brasão e se misturou no meio dos sete. E vamos chamar a pessoa que ativou a barreira de 8º. É claro que eles estão trabalhando com os Kyomas. Enquanto os Kyomas atraíam os seis heróis para o templo jogando bombas e nos atacavam com o intuito de nos separar dos outros, o oitavo se aproveitou para entrar no templo. Foi um plano incrível.”

“... Mas uma pergunta continua. Por que o sétimo estava aqui? Se o plano deles era nos prender dentro da barreira, então, o plano daria certo sem ter um sétimo no meio de nós. Não tem sentido. Se o sétimo não estivesse aqui, então eu não teria sido acusado de ser impostor. Nos prender não era o plano, o plano era me acusar e me matar.”

“Eu nunca pensei nisso porque eu acho que você é o sétimo.”

Ela participava da conversa, mas não parecia acreditar nele. Ele achou que depois que convencesse ela, ele teria uma aliada, mas parecia que aquilo não iria acontecer.

“Por enquanto, vamos deixar de lado as teorias sobre o sétimo. Nossa prioridade é achar o oitavo.”

“Você consegue achar ele sozinho?”

Adlet ficou em silêncio. Ele teria que procurar por um inimigo que ele não conhecia nem identidade ou ao menos o poder, ao mesmo tempo em que ele teria que fugir dos outros cinco perseguidores. E é claro que o oitavo não estaria simplesmente passeando pelos arredores. Provavelmente, ele estava se escondendo para não ser achado.

Tal plano é possível? Ou seria impossível afinal de contas? Adlet se perguntou. Mas em todo momento que Adlet pensava que algo era impossível, aquilo o fazia sorrir. E mais uma vez sua boca se esticou em um sorriso e ele se sentiu excitado.

“Você é um homem estranho, por que está sorrindo?”

“Naturalmente, minha habilidade de sorrir é porque sou o homem mais forte do mundo.”  Adlet cruzou os braços sorrindo orgulhosamente.

“Até mesmo uma situação crítica como essa é incapaz de abalar sua confiança?”

Ria do desespero. Esta foi a primeira coisa que seu mestre Atro ensinou a ele.

“Amanhã será divertido. Amanhã será o dia que eu vou destruir o plano do inimigo. Amanhã será o dia que eu vou provar ambos os fatos, que sou inocente, e o porquê de ser o homem mais forte do mundo. Mal consigo esperar para o nascer do sol.”

Adlet continuou a rir. Ele não tinha ideia da verdadeira identidade do oitavo, muito menos sabia como iria escapar dos outros, mas se ele não risse, então, tudo estaria acabado.

“Você é iludido...”

“Não. Sou determinado!”

Enquanto ria, Adlet pensou na identidade do oitavo e qual seria seu poder. Ele espremeu a memória atrás de alguma pista que ele talvez tenha deixado passar despercebida.

E, inesperadamente, após algum tempo, Fremy falou. “Por que você escolheu ser uma das Seis Flores?” 

Por quê? A pergunta dela o assustara. Todo esse tempo, Fremy havia sido indiferente com seus companheiros, fazendo daquele momento a primeira vez que ela havia demonstrado interesse em alguém além dela mesma.

“Por que você quer saber?” 

“Porque você é uma pessoa comum.”

“...”

“Hans é abençoado com habilidades fora do comum, assim como Goldof. Mas você é diferente. Você é apenas uma pessoa comum, que usa um bocado de armas estranhas.”

“... você está dizendo que o homem mais forte do mundo é fraco?”

“Não é isso que quero dizer. O meu ponto é, como uma pessoa comum e ordinária, como você, tornou-se tão forte assim?” 

Adlet não respondeu. Aqueles como Hans e Goldof  nasceram com talento, mas ele era penas um qualquer. Aquilo nem mesmo ele negava. Sua habilidade marcial  e com a espada eram um reflexo pálido perto da capacidade dos outros dois.

“... É graças ao meu professor” Adlet disse. “Normalmente, eu digo isso, mas me deixe te contar, meu mestre era louco, hahahahaha. Ele é obcecado em derrotar os Kyomas, e nada mais. Ele quase não parecia humano.”

“...”

“Eu estudei táticas de batalha. Todo dia eu treinava ao ponto de vomitar e não conseguir me movimentar. E quando eu não estava treinando fisicamente, estava estudando como fazer armas secretas, venenos, refinar pólvora, etc. Sempre utilizando da ciência para me ajudar.”

“...Ciência? Você estudou tanto assim?”

“Graças ao meu mestre, eu fui capaz de me tornar forte. Sem os ensinamentos dele, eu não seria capaz de ter me tornado o mais forte do mundo.”

“Eu já ouvi falar dele.”

Adlet olhou para Fremy.

“Atro Spyker. Ele era um dos meus alvos de assassinato. Mas como já era velho, a prioridade era baixa.”

“Exato. Esse é o nome dele.”

“Eu ouvi dizer que todos os seus pupilos fugiram. Eles não conseguiam suportar seu treino cruel.”

“Esta informação está errada, pois eu não fugi.”

“Como você conseguiu? Suportar...?”

Adlet não respondeu.

“Tem algo, não tem? Um motivo pelo qual você se tornou um Herói das Seis Flores.”

Adlet se lembrou do tempo que havia conversado com Nashetania na cadeia; ela havia perguntado de tudo um pouco, mas Adlet não havia respondido tudo.

Havia coisas que eram muito sensíveis para ele, e, por isso, guardava só para si mesmo.

“... quando eu era criança, um Kyoma solitário veio até a minha vila.” E por alguma razão que Adlet desconhecia, com Fremy, parecia natural falar sobre o passado. “Eu não podia acreditar. Eu achava que os Kyomas existiam em um mundo completamente distante do nosso. Meu amigo o enfrentou com um pedaço de pau, já eu, fiquei chorando em estado de choque.”

“Que tipo de Kyoma era?”

“Tinha a forma de um humano. Seu corpo era de uma cor verde mas mudava a tonalidade em algumas áreas. Naquele tempo, era tão grande que parecia perfurar os céus, mas hoje em dia, comparando, ele era mais ou menos do tamanho do Goldof.”

“Provavelmente tinha três asas certo? Como as de um corvo saindo de suas costas?”

“Sim. Como você sabe disso?” 

“Continue sua história.” Fremy disse.

“...Ele não atacou as pessoas, muito menos comeu. Apenas sorriu e se aproximou de mim e do meu amigo. Então, passou a mão na minha cabeça gentilmente, como um pai faria com seu filho. O Kyoma reuniu os adultos da vila. Minha irmã e eu dissemos que estávamos dormindo, mas era mentira, nenhum de nós conseguia dormir naquela situação. Eu mesmo tremia de tanto medo.”

“E então?”

“Na outra manhã, ele havia indo embora. Ninguém estava ferido, muito menos morto. Eu estava aliviado. Mas, após aquilo, o líder da vila falou, dizendo para todos migrarem para o território dos Demônios Atormentados, e se unirem ao Majin.”

“...”

“Os adultos começaram a falar coisas como, 'a era dos humanos acabou. Será impossível os Heróis das Seis Flores vencerem.' E acreditavam que se aliar ao Majin era a única maneira de salvar suas vidas. A conversa durou apenas uma noite, mas era como se as pessoas tivessem mudado da água para o vinho. Eu não sabia o que fazer. Eu estava assustado, tremendo. Apenas minha irmã e meu amigo foram contra aquela ideia. Mas o Kyoma também disse algo, era para arrancar fora o coração de quem fosse contra e levar ao Majin, como sinal de lealdade.”

“Isso parece, com algo que ele iria falar.”

Então ela conhece esse Kyoma afinal de contas.

“Que tipo de ser ele é?”

“Todos os Kyomas são liderados por três Kyomas anciões. Ele é um desses três. E também foi ele que teve a ideia de criar uma criança meio Kyoma meio humana, ou seja, eu.”

“...” Adlet ficava em silêncio.

“Continue sua história.”

“Até o final, eles não odiaram as pessoas do vilarejo. O Kyoma era o inimigo, não as pessoas. Meu amigo disse, ‘Não odeie os humanos.’ E minha irmã completava, ‘Quando tudo voltar ao normal, certamente vamos viver todos felizes mais uma vez’. Eles disseram para eu ir colher cogumelos de novo. E Raina disse que nós faríamos outra força de defesa juntos.”

“... O que aconteceu com eles?”

“Meu amigo morreu me protegendo. Minha irmã morreu me ajudando a escapar. Eu sou o último que restou.” Adlet disse, então, ponderou. “Por que estou te falando isso? Ah, é mesmo, a razão pela qual eu fiquei forte.” Adlet disse, fechando os olhos e vendo os rostos de seu amigo e irmã flutuando em sua mente.

“Quando eu contei a história para meu mestre, ele disse que eu era capaz de me tornar forte por causa da minha irmã e do meu amigo. Algum dia, as coisas vão voltar ao normal. Algum dia você será capaz de viver em paz. Porque você acredita nessas palavras, mesmo agora, você foi capaz de se tornar forte. Pessoas que procuram vingança não se tornam fortes, apenas pessoas que acreditam em algo conseguem.”

Fremy ficou em silêncio.

“Foi o suficiente?”

Foi uma conversa inesperadamente longa, mas a noite também era longa. E havia muito tempo para conversar. 

“Estou com inveja.” Fremy disse.

Adlet não acreditava no que ouvia, “Como? O que você disse?”

“Eu disse que estou com inveja.”

Adlet esqueceu da dor nas costas, ficou de pé, levou a mão até a espada e falou. “Repita mais uma vez? Não tem como você ter falado que estava com inveja!”

“Eu estou com inveja. Eu não tenho nem no que acreditar.”

Sem palavras, Adlet tirava a mão da espada e se sentava.

“A pessoa que eu mais amava, me abandonou.”

“...como assim?”

“A Kyoma que me deu à luz e me criou. Ela me deu a arma que eu tenho, o poder da Santa da Pólvora e alegria. E então, me abandonou.”

Adlet estava parado, não fazia sequer um som, com medo que ela parasse de contar a história de seu passado.

“Foi como eu falei anteriormente. Eu fui criada pelos Kyomas. Eles não eram como os que nós enfrentamos. Eles eram sábios, corajosos, e leais ao Majin. Eu os amava. E pensava que eles me amavam de volta. Por ordem da minha mãe, eu matei muitas pessoas. Eu não tinha dúvidas. Pelo contrário, eu acreditava ter que dar o meu melhor para matar pessoas. Eu sou metade Kyoma, com sangue sujo dos humanos correndo nas minhas veias, então, eu achei que deveria me esforçar o dobro que um Kyoma comum para servir ao Majin. Até mesmo um mestiço como eu seria conhecida como um Kyoma se matasse vários humanos. Pelo menos era o que eu pensava.”

Após dizer aquilo, a expressão de Fremy parecia mais infantil do que nunca.

“Mas com o tempo, eu entendi que de nada adiantava para o Majin eu matar pessoas comuns. Os seis mais forte do mundo, eram esses que eu deveria matar. Nashetania e Mora estavam fortemente protegidas, logo, eu não podia me aproximas delas. Então, eu decidi desafiar Chamo.

“Eu tinha certeza que seria reconhecida como uma Kyoma completa se matasse a Santa dos Pântanos.”

“...você perdeu.”

“Eu me arrependo. Teria sido melhor ir atrás de Mora ou Nashetania do que lutar contra ela. Eu não tive a mínima chance, não pude fazer nada além de correr. E para piorar, eu fiz uma grande besteira. Ao fazer o desafio, eu disse meu nome, minha origem, assim como meu poder para Chamo.”

Adlet não conseguia nem imaginar que tipo de luta tinha sido.

“E quando eu, por muito pouco, consegui voltar para minha casa com vida... minha mãe tentou me matar. Assim como os outros Kyomas que eu achei que eram meus companheiros. Eu já havia servido o meu propósito. E havia uma parte minha que desejava ter morrido lá. Mas, com dificuldades, eu consegui fugir mais uma vez.”

Fremy passou o polegar na testa. Onde o chifre dela ficava, agora, tinha uma cicatriz provando que ela era parte Kyoma.

“... O que eu não consigo perdoar, não é o fato deles tentarem me matar. E sim eles terem mentido que me amavam... se eu fosse apenas uma boneca para ser usada, então eu entenderia, mesmo que eles houvessem me traído, não seria algo tão doloroso, mas... mas...  minha mãe...” Fremy fechava os punhos com ódio. “Minha mãe fingiu que me amava.”

“...Vingança?”

“Eu não ficaria satisfeita em apenas matá-la. Eu tenho que destruir tudo pelo qual minha mãe arriscou sua vida. Eu não vou me sentir satisfeita a menos que eu mate o Majin. Se eu fizer isso, então, posso dizer que minha mãe vai se sentir devastada. Pois o que eu vou fazer, é apenas um resultado do que ela fez comigo.”

Quando Adlet havia encontrado Fremy pela primeira vez, ele havia pensado em deixá-la sozinha, e agora, ele finalmente entendia o motivo. Ela era como ele. A dor que ela sentia, era a mesma que a dele. Era a dor de ser traído pelas pessoas que acreditava e perder o local para o qual pudesse retornar. Era uma dor de ódio que queimava pelo corpo.

Vingança é inútil. Vingança é cometer um erro. Vingança não trazia nada. Havia muitas pessoas que diziam coisas do tipo. Mas elas não entendiam. Vingança não era feita porque tinha um sentido, ou por ser certa. Era feita, porque a pessoa não tinha mais nada para fazer.

“Eu era feliz naquele tempo. Minha mãe estava do meu lado, assim como meus amigos. Nós brincávamos e lutávamos juntos. Eu também tinha um cachorro. Eu me pergunto o que houve com ele. Será que ele ainda é alimentado, ou também foi abandonado?” Fremy continuava a falar, mas parecia que ela estava falando consigo mesma agora.

“Hey, Fremy.”

“O quê?”

“Independente do que seja, dê o máximo de si.”

Ele pretendia dizer aquilo como um encorajamento para a garota, mas com um tom de ‘estou feliz por você’. Porém, a resposta dela foi um olhar de dúvida em vez de frieza.

“Adlet, por que você não desconfia de mim?”

“Huh?”

“Por que minha história parece verdade? Você não está considerando o fato de que eu possa estar mentindo?”

“O que você está dizendo, Fremy?”

“Se você se diz verdadeiro, então, eu deveria ser a mais suspeita para você. Do seu ponto de vista, eu sou a mais suspeita, independente do que possa ser dito.”

“Realmente.”

“Caso você não seja o impostor, a primeira coisa que deveria estar fazendo é encontrar uma prova de que eu sou a sétima. Porém, você não está. Por isso, é razão suficiente para que eu deva suspeitar de você.”

Adlet pensou que era uma teoria estranha, mas ele entendia que, na situação dela, não era algo ilógico.

“Isto, é...” Adlet pensava em uma resposta. Várias palavras vieram em sua mente, mas nenhuma delas parecia ser adequadas. Ele não conseguia colocar o que estava sentindo em palavras.

“Eu não quero pensar que você é o inimigo.”

“...eu não entendo o que se passa nessa sua cabeça.”

“Huh? Não pense besteiras Fremy. Não é porque eu gosto de você particularmente ou algo do gênero.”

“Não é disso que eu estou falando. Não diga coisas desse tipo.” Fremy falou rispidamente. “Eu não consigo entender. Eu realmente não consigo entender você.” Ao dizer isso, Fremy rapidamente ficou de pé. “Eu vou voltar para o templo. Provavelmente os outros se juntaram lá.”

“Você está partindo?”

“Claro.”

Então, a silhueta de Fremy sumiu na escuridão. Falar sobre o passado deles, ele achou que tinham sido capazes de se entenderem um pouco. Mas talvez ele tenha se engando.

“Gostaria de vir comigo?” Adlet falou para a escuridão.

Fremy parou e pensou por um momento. “Nós falamos sobre muitas coisas, mas o fato de que você é o mais suspeito ainda não mudou.”

“...Entendo.”

“Mas, uma última vez, eu vou ouvir o que você tem para dizer.”

Do meio da escuridão Fremy tacou algo para ele. Era um pequeno sinalizador feito de pólvora.

“Foi feito com a minha habilidade... o poder da Deusa da Pólvora. Se você atirar no chão, irá explodir. E se o fizer, não importa o que aconteça, eu irei saber.”

“Está dizendo que eu posso usar para te chamar?”

“Não se engane. Isto não significa que confio em você. A próxima vez que nos vermos, talvez eu acabe te matando.”

“...”

“Use ou não use, a escolha é sua.” Dizendo aquelas últimas palavras, Fremy sumia na escuridão.

Enquanto encarava a escuridão, Adlet pensou na conversa que havia tido com a garota. Daquela conversa, ele conseguiu confirmar apenas uma coisa. Com certeza, Fremy não era o inimigo. Não era nos motivos dela que ele acreditava, e sim, no seu coração.

Ele queria proteger ela do Majin… do sétimo.

“Fremy. Eu vou te proteger. E não apenas você, Nashetania, e os outros também. Porque eu posso proteger todos.”

Não houve resposta. Adlet se sentou novamente, olhou para o céu escuro coberto pelo nevoeiro e pensou no passado.

Ele lembrou de cinco anos atrás, sob a tutela de Atro, ele estava, de pouco em pouco, tornando-se o mais forte do mundo. Durante aquele tempo, ele havia retornado para sua vila apenas uma vez. Mas o local havia sido completamente queimado.

Não havia sobrado nada. Nem a casa que ele vivia com sua irmã, muito menos onde ele treinava com seu amigo. E a única coisa que a vila queimada fazia ele sentir era que jamais iria recuperar o que ele havia perdido.

Adlet acreditava que tinha ficado forte, não por vingança, nem porque lutava por causa de ódio. Mas sim porque, ao se tornar o mais forte do mundo, jamais iria perder alguém de novo.

Mas, mesmo que ele pensasse assim, a pessoa que ele mais queria proteger era indiferente. 

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